PALERMO, 23 OUT (ANSA) – O ator americano Richard Gere foi admitido como testemunha em um processo contra o ex-ministro do Interior da Itália e senador de extrema direita Matteo Salvini por sequestro e omissão de ato de ofício.   

A possibilidade de Gere testemunhar no julgamento já havia sido antecipada pelo próprio Salvini, mas foi confirmada pelo Tribunal de Palermo apenas neste sábado (23), data da primeira audiência do julgamento.   

O caso diz respeito a uma ordem do então ministro do Interior para impedir o desembarque de cerca de 150 migrantes resgatados no Mediterrâneo pelo navio da ONG espanhola ProActiva Open Arms, em agosto de 2019.   

A embarcação ficou 20 dias estacionada em frente à ilha de Lampedusa, e a maior parte das pessoas a bordo só pôde descer na Itália após uma intervenção da Justiça Administrativa, que determinou o desembarque por motivos sanitários.   

Richard Gere vai testemunhar porque esteve a bordo do navio da Open Arms em 9 de agosto de 2019, durante o bloqueio imposto por Salvini, e pode atestar quais eram as condições das pessoas resgatadas.   

O Ministério Público se opôs à presença do ator, alegando um risco de “espetacularização” do julgamento, mas o Tribunal de Palermo acabou acatando o pedido da Open Arms para incluir o astro na lista de testemunhas. A próxima audiência está marcada para 17 de dezembro, mas ainda não há data para o depoimento de Gere.   

“Digam-me vocês: quão sério é um processo para o qual Richard Gere virá de Hollywood para testemunhar sobre minha maldade? Espero que dure o menos possível porque há coisas mais importantes com o que se preocupar”, disse Salvini ao sair da audiência deste sábado, acrescentando que o julgamento é um “processo político organizado pela esquerda”.   

Já o fundador da Open Arms, Òscar Camps, afirmou que o objetivo do caso é “obter justiça”. “Nós não fazemos política, nós salvamos pessoas”, acrescentou.   

Salvini já escapou de um processo semelhante em maio passado, quando um juiz preliminar de Catânia arquivou uma acusação de sequestro referente ao bloqueio de migrantes resgatados pelo navio Gregoretti, da própria Guarda Costeira da Itália, em julho de 2019.   

No entanto, o caso Open Arms corre em um tribunal de outra cidade, embora na mesma região, e chega em um momento delicado para o ex-ministro do Interior, que viu seu partido, a Liga, sofrer duras derrotas nas eleições municipais de outubro e enfrenta a ascensão de Giorgia Meloni no campo da extrema direita.   

Deputada e presidente do partido ultranacionalista Irmãos da Itália (FdI), Meloni faz oposição ao governo de Mario Draghi – ao contrário de Salvini – e hoje já aparece na liderança da maioria das pesquisas nacionais de intenção de voto.   

Informações de bastidores divulgadas pelos jornais italianos dão conta de uma crescente tensão entre Meloni e Salvini, que formam uma coalizão de direita com o ex-premiê Silvio Berlusconi.   

(ANSA).