Se há vinte anos alguém dissesse que as pessoas não iriam mais para os seus escritórios, mas que trabalhariam de casa através de videoconferências, ninguém acreditaria como algo provável ou até mesmo prático. Hoje isso já está superado e a previsão é que viveremos plenamente em ambientes virtuais em 3D, na forma de avatares, cumprindo todo tipo de função profissional e reproduzindo nossa própria vida na rede com personagens animados. O Facebook, empresa comandada por Mark Zuckerberg, está encabeçando essa revolução para estabelecer a nova realidade tridimensional. A empresa lançou novos óculos “VR” (virtual reality) e ditou que o futuro será a imersão no online. Você deixará de ter uma foto de perfil e terá seu corpo inteiro transportado para um lugar cibernético chamado “metaverso”. “Faremos com que as pessoas que nos vêem como uma empresa de mídia social nos vejam como uma empresa metaversa”, disse Zuckerberg.

Amy Osborne/AFP

“Faremos com que as pessoas que nos vêem como empresa de mídia social nos vejam como uma empresa metaversa” Mark Zuckerberg, CEO do Facebook

Se a palavra parece saída da ficção científica é porque isso é verdade: o termo “metaverso” surgiu pela primeira vez no livro “Snow Crash”, escrito por Neal Stephenson, em 1992. O enredo trazia dois entregadores de pizza que mergulham no espaço virtual para fugir de uma vida disfuncional. Hoje se fala simplesmente numa combinação da vida comum das pessoas com recursos de realidade aumentada, como uma espécie de projeção de si mesmo na rede. “As pessoas conversam em telas onde só o rosto é visto”, explica o cofundador da empresa de realidade virtual VR Monkey, Pedro Kayatt. “Mas uma reunião de trabalho onde é possível ver o gestual dos envolvidos, será muito mais produtiva”. Ele diz que os ganhos na educação serão relevantes, já que os estudantes poderiam interagir como em um videogame com colegas e professores. Apesar da ideia não ser nova, só agora a humanidade ­— e os desenvolvedores — conseguiram reunir tecnologia avançada e internet de boa qualidade para fazer com que um mundo paralelo seja possível. Jogos como “Second Life”, que surgiu em 2003, eram pesados e com gráficos ruins. Por lá se criava uma segunda vida e se estabeleciam relações sociais virtuais. A ideia agora é usar essas ferramentas em nosso cotidiano e permitir que o metaverso seja acessado por todos.

VIDA PARALELA Experiência cibernética vivida em jogos como o Second Life fará parte do cotidiano: evolução das redes sociais (Crédito:Divulgação)

Se os óculos de realidade virtual ainda causam estranheza, atualmente os modelos são modernos, leves e acompanhados por dois controles. O futuro, é ainda mais promissor. A Apple deve lançar seus dispositivos de realidade aumentada em breve e o design deve ser cada vez mais funcional e prático. O metaverso é centrado em uma economia em pleno funcionamento: ou seja, você poderá entrar em lojas, ocupar diversos “espaços” com facilidade e ainda manter os avatares e mercadorias que compra. Os videogames ensaiam esse universo, mas ainda em uma tela. Jogos como Roblox, Fortnite e Animal Crossing — criam comunidades, colocam roupas de grife para serem compradas e usadas pelos avatares e até levam a shows de artistas reais, recriados conforme o gráfico dos jogos. Entretenimento, mercado de trabalho e viagens são apenas o começo. Essa fronteira tecnológica pode tomar proporções grandiosas — imagine um mundo sem limitação de tamanho e criatividade no qual você poderá percorrer normalmente. A possibilidade de mercado — de geração de riqueza, principalmente para as empresas — será imensa.
Mark Zuckerberg quer as pessoas literalmente dentro do Facebook — e com isso dividir seus gestos, sotaques, maneiras de se vestir com a empresa. Um passo além da concessão de privacidade. Se atualmente a rede social já sabe muito sobre você, passará a saber ainda mais. Quem irá controlar o metaverso? O que sua existência faria ao nosso senso comum de realidade? A humanidade ainda está abraçando a versão bidimensional das plataformas sociais e disputar a versão 3D pode ser exponencialmente mais difícil. “Estamos mediando as nossas vidas e nossa comunicação através de pequenos retângulos brilhantes. Acho que não é realmente como as pessoas são feitas para interagir”, disse Zuckerberg em entrevista à imprensa americana. Com o aquecimento global e futuras pandemias, viver sem tecnologia será impossível — mas será que estamos indo na direção correta?