Os líderes de uma reunião de emergência sobre a crise no Haiti, que enfrenta a violência de grupos criminosos, mostraram-se otimistas nesta segunda-feira (11) quanto à possibilidade de promover uma solução política no país caribenho, para o qual os Estados Unidos anunciaram uma ajuda adicional.

A Comunidade do Caribe (Caricom) convocou a reunião na Jamaica depois que os grupos armados que controlam boa parte da capital haitiana, Porto Príncipe, instalaram o caos nos últimos dias.

“Está claro que o Haiti se encontra em um ponto de inflexão”, afirmou o premier da Jamaica, Andrew Holness, que convidou os líderes para as conversas em Kingston.

A reunião pretendia formalizar uma proposta para o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, ceda o poder a um conselho de transição que inclua um amplo espectro da sociedade haitiana. Henry, que deveria ter deixado o poder em fevereiro, é muito questionado no país, onde gangues e parte da população exigem a sua renúncia.

Apesar da insegurança nas ruas da capital, onde havia corpos hoje, os líderes da Caricom expressaram esperança de encontrar uma saída política para a crise. “Estou muito confiante, por termos encontrado pontos em comum e um caminho graças ao qual podemos apoiar uma solução liderada pelos haitianos”, disse o presidente da Guiana, Irfaan Ali, líder temporário do bloco caribenho.

– Apoio dos Estados Unidos –

Em Kingston, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, anunciou mais 100 milhões de dólares (498 milhões de reais) para apoiar uma força internacional de estabilização no Haiti, uma soma que eleva para 300 milhões o montante prometido por Washington desde que a crise no país caribenho se intensificou, anos atrás. Blinken ofereceu mais 33 milhões de dólares (164 milhões de reais) em ajuda humanitária imediata.

“Todos sabemos que somente o povo haitiano pode e deve determinar seu próprio futuro, mais ninguém”, disse Blinken, embora os Estados Unidos e seus parceiros “possam ajudar a restaurar a segurança” no Haiti.

Washington apoia o plano da Caricom de criar um “colégio presidencial de base ampla, inclusivo e independente”, que trabalhe com o objetivo de restabelecer a segurança e avançar para a realização de eleições, acrescentou Blinken.

No fim de 2023, o Conselho de Segurança da ONU concordou em enviar uma missão internacional liderada pelo Quênia para apoiar a polícia haitiana, o que ainda não aconteceu. O primeiro-ministro haitiano, que assinou no início de março em Nairóbi um acordo para mobilizar policiais quenianos, não pôde retornar a seu país desde então.

Ariel Henry permanece em Porto Rico, após não conseguir pousar em Porto Príncipe devido à violência em torno do aeroporto, e depois que a República Dominicana lhe negou a entrada. O dirigente deveria ter deixado o cargo no começo de fevereiro, mas se negou a fazê-lo.

– Evacuação de embaixadas –

Porto Príncipe está tomada por uma aliança de gangues que exige a saída do primeiro-ministro, Ariel Henry. Em meio ao caos instaurado na capital, as forças de segurança haitianas conseguiram retomar o controle do porto, após confrontos armados com as gangues durante o fim de semana, informou à AFP o diretor da Autoridade Portuária Nacional, Jocelin Villier.

Navios conseguiram descarregar contêineres, mas ainda é um desafio transportar os produtos e alimentos para outras localidades, uma vez que as estradas principais não são suficientemente seguras.

As gangues atacam há dias locais estratégicos como o palácio presidencial, delegacias e prisões em sua queda de braço com o poder.

Neste contexto de violência e incerteza, a União Europeia transferiu todos os seus funcionários de Porto Príncipe para “um lugar mais seguro fora do país”, indicou nesta segunda-feira Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.

A missão diplomática alemã anunciou uma medida similar no domingo: o envio de seu embaixador para a vizinha República Dominicana “até novo aviso”. Os americanos evacuaram de helicóptero seu pessoal diplomático não essencial da capital na noite de sábado.

– Emergência –

Há uma semana, autoridades haitianas decretaram estado de emergência e toque de recolher noturno no departamento do Oeste, que inclui a capital, ao se agravar a deterioração da segurança em Porto Príncipe.

Na capital, os escritórios públicos e as escolas estão fechados há dias, e o aeroporto está paralisado. Os hospitais tampouco podem funcionar normalmente no país mais pobre das Américas.

Segundo Organização Internacional das Migrações (OIM), 362 mil pessoas, mais da metade delas, crianças, estão deslocadas no Haiti, um número que aumentou 15% desde o começo do ano.

Em uma das poucas boas notícias dos últimos dias, uma congregação católica anunciou no domingo a libertação de cinco pessoas sequestradas em fevereiro em Porto Príncipe, entre elas quatro religiosos. A instituição pediu a libertação de outros dois religiosos sequestrados.

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