Desde a última retrospectiva de Picasso em São Paulo, são 12 anos. Em 2004, uma grande mostra do artista espanhol ocupou toda a Oca, no Parque do Ibirapuera, atraindo milhares de visitantes. Agora, a cidade recebe mais uma vez um conjunto expressivo de criações do pintor – e novamente pertencentes à coleção do Musée National Picasso-Paris.

Entre os 116 trabalhos do artista selecionados do acervo do museu parisiense para a exposição Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem, que será inaugurada neste sábado, 21, para convidados, e domingo, 22, para o público, no Instituto Tomie Ohtake, há algumas obras-primas do gênio, como o autorretrato de 1906, considerado um prelúdio dos caminhos que ele tomaria em direção à realização de um dos quadros mais importantes do século 20, Les Demoiselles d’Avignon, de 1907. “É primitivo, geométrico, muito escultural”, descreve Emilia Philippot, curadora da mostra e da instituição francesa.

Mas há ainda muitos outros trabalhos referenciais de Pablo Picasso (1881-1973) chegando ao Brasil neste momento (veja quadro ao lado), como o óleo sobre madeira A Morte de Casagemas, de 1901, em que o artista pinta, “no estilo de Van Gogh” o amigo, suicida, no caixão. Ou Figuras à Beira do Mar, de 1931, um desdobramento surrealista do cubismo, o revolucionário movimento do qual Picasso e Georges Braque (1882-1963) são considerados fundadores. Sem contar, ainda, os pouquíssimo conhecidos 22 fotogramas que o espanhol criou em parceria com o fotógrafo André Villers. “Em toda a história, não há exemplo de outro pintor que tenha sido capaz de criar tal diversidade de obras e de lhes conferir o poder de uma arte bem-sucedida”, já definiu o teórico da arte Meyer Schapiro.

A mostra Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem, com 34 pinturas, 42 desenhos, 20 esculturas e cerâmicas, 20 gravuras e os trabalhos fotográficos que o mestre realizou com Villers (além de filmes e imagens que o retratam), tem como objetivo justamente trazer à tona, em percurso cronológico, as várias facetas de produção do mestre – e o mote curatorial reflete o próprio acervo do Musée National Picasso-Paris, cuja singularidade é ser formado por “Picassos de Picasso”, ou seja, os trabalhos seletos que o artista guardou consigo – e alguns com os quais decidiu conviver, observa Emilia Philippot -, até a morte. “Desde os primeiríssimos anos de formação, durante os quais o jovem prodígio molda com habilidade cópias em gesso de mármores antigos, até as últimas etapas de sua vida, marcadas por intensa prática da gravura – entre reinvenção de técnicas e transgressão do motivo -, a coleção do museu parisiense constitui um corpus único que possibilita abordar o homem e sua obra em toda a sua complexidade”, afirma a curadora.

Como opina Emilia Philippot, de 34 anos, Picasso é muitas vezes conhecido apenas como “o homem de muitas mulheres” e de muitos estilos. “Prefiro mostrar as questões estéticas de sua obra.”

Sendo assim, Olga Koklova, Marie-Thérèse e Jacqueline Roque aparecem com menos protagonismo na mostra, citadas nas criações – exceto a fotógrafa Dora Maar, que está na gravura La Femme Que Pleure, mas participa ainda como autora dos famosos retratos que documentaram o artista criando cada passo da pintura Guernica, em 1937.

Aliás, a retrospectiva tem um segmento dedicado justamente a Guernica. Não apenas por ser uma das principais obras do artista, seu “grito” sobre os horrores da guerra, mas também pelo fato de o painel ter sido apresentado na 2.ª Bienal de São Paulo, em 1953.

Depois da temporada no Instituto Tomie Ohtake, a exposição seguirá para o Rio – provavelmente, a exposição será abrigada no Paço Imperial. As exibições brasileiras estão orçadas em R$ 10 milhões, mas o projeto também prevê itinerância da mostra para o Centro Cultural Palacio de la Moneda, no Chile.