Além de ter sido o autor visceral que todo cinéfilo sabe, Ozualdo Candeias foi um fotógrafo apaixonado que registrou o dia a dia da Boca do Lixo com suas câmeras Exakta 50 mm e Nikon, entre 1960 e 2000, revelando, de modo próximo e espontâneo, o cinema paulistano dos anos 1960 e 70. Candeias morreu em 2007 – há dez anos. Nesta quinta-feira, 7, ele recebe a homenagem do Cinesesc, na inauguração da já tradicional Retrospectiva do Cinema Brasileiro.

Todo ano – essa é a 18ª edição -, a sala da Augusta promove, em dezembro, a revisão dos filmes brasileiros lançados no ano. Em 2017, a retrospectiva inclui a exibição, nesta noite, da versão restaurada de A Margem e uma exposição das fotos de Candeias, que permanecerá até 3 de janeiro. Quanto aos filmes… Foram tantos, que Simone Yunes precisou pedir socorro, como diz.

Num ano em que a participação do Brasil no próprio mercado – o share – diminuiu, o número de filmes aumentou. Foram 141 lançamentos de filmes brasileiros. Seria uma loucura dar conta de tudo isso. A solução foi recorrer a uma curadoria. A montadora Cristina Amaral e o crítico Chico Fireman uniram-se a Simone e à equipe do Cinesesc e selecionaram um total de 55 filmes que vão integrar a retrospectiva. São 26 longas de ficção, 24 documentários e cinco curtas.

Cada um terá seus favoritos – seus melhores – entre esses 141 títulos, ou 55, que sejam. Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano, Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, Divinas Divas, de Leandra Leal, Pitanga, de Camila Pitanga e Beto Brant, Cidades Fantasmas, de Tyrell Spencer, O Rifle, de Davi Pretto, As Duas Irenes, de Fábio Meira, Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, Quem Foi Primavera das Neves, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, Joaquim, de Marcelo Gomes, etc. Um filme característicamente do ano passado – Cinema Novo, de Eryk Rocha, foi premiado pela APCA entre os melhores de 2016 – ainda integra a seleção porque a curadoria considerou os filmes entre novembro do ano passado e outubro deste ano. Isso explica porque O Intenso Agora, de João Moreira Salles, não está nominado na retrospectiva do Cinesesc.

Foi um ano de grandes documentários, e belíssimas ficções. Lembrando a obra fundadora dos irmãos Lumière – e o filme de Thierry Frémaux, que está estreando, faz um resgate importante -, Corpo Elétrico tem a cena da saída da fábrica, mas agora o diretor Marcelo Caetano está ancorado na modernidade, discutindo questões de representatividade no universo LGBT. Nisso não está sozinho, porque o acompanha a Leandra Leal de Divinas Divas. Outros autores e autoras discutem a mulher (As Duas Irenes e Como Nossos Pais), e o debate transcende o gênero para abordar questões raciais (Pitanga) e sociais (o movimento sem-teto em Era o Hotel Cambridge). Quase como uma súmula, Marcelo Gomes funde todas essas questões num manifesto de afirmação da própria identidade brasileira – o alferes Joaquim José da Silva Xavier, antes de virar o mítico Tiradentes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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