Um retrato do último czar da Rússia, Nicolau II, que esteve escondido durante quase um século atrás de uma pintura do pai da Revolução Russa, Lênin, será exposto em breve em São Petersburgo, anunciou nesta sexta-feira a equipe de restauradores.

“O retrato do imperador vestido de gala, realizado por Ilia Galkin em 1896 ficou escondido durante quase 90 anos atrás de outro retrato, o de Lênin, pintado em 1924 por outro artista, Vladislav Izmailovich”, disse à AFP Tatiana Potseluieva, encarregada pela equipe de restauradores, que durante três anos se incumbiu de reconstituir a tela.

O gigantesco retrato de Lênin, de quatro metros por três, em pé na frente da Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, permaneceu durante anos no salão cerimonial da escola 206 da antiga capital imperial. Na época czarista, a instituição era um instituto de comércio, e depois foi transformada em um colégio.

A pintura ficou no local durante quase um século, e foi danificada por engano durante a década de 1970, mas sua restauração só começou em 2013 por especialistas da Academia de Arte e Indústria Stieglitz, de São Petersburgo, que rapidamente descobriram a dupla identidade do quadro.

A imagem do último czar da Rússia, assassinado junto com a sua família pelos bolcheviques em 1918, apareceu sob uma camada de tinta solúvel em água. “Ficamos realmente surpresos!”, lembrou Tatiana Potseluieva.

O artista soviético Vladislav Izmailovich (1872-1959), autor do retrato de Lênin, pintou claramente como se não quisesse destruir a obra do seu predecessor, e camuflou intencionalmente o retrato do czar atrás daquele do líder bolchevique.

“Normalmente, quando se pinta por cima de uma tela, se destrói a imagem que havia. Aqui, o pintor a conservou, fazendo-a desaparecer sob uma camada de pintura solúvel em água, antes de pintar no verso” do quadro, explicou a restauradora.

“Parece que ele esperava que um dia o retrato de Nicolau II fosse descoberto,” diz com entusiasmo.

“Ao manter o retrato do czar, Vladisslav Izmailovitch arriscou muito naquela época”, disse por sua vez o reitor interino da Academia, Vasily Kitchedji.

A tela, que agora exibe os dois retratos, será exposta ao público no final do mês de novembro na Academia Stiglietz.