Retorno de astro do country gera questionamentos sobre racismo nos EUA

Retorno de astro do country gera questionamentos sobre racismo nos EUA

Depois de cair em desgraça por proferir insultos racistas, o astro do country americano Morgan Wallen voltou com força um ano depois, como mostram o sucesso de vendas de seu segundo álbum e a alta procura por ingressos para os shows de sua turnê pelos Estados Unidos, o que levou os críticos a questionar se o racismo está normalizado no país.

Há um ano, Morgan Wallen foi difamado após insultar um homem negro em um vídeo publicado nas redes sociais. Sua carreira desmoronou e parecia ter chegado ao fim. Depois de ser “suspenso” por sua gravadora e excluído das cerimônias de premiação, Wallen está de volta.

O segundo álbum de estúdio do cantor, “Dangerous: The Double Album”, tornou-se no ano passado um sucesso comercial, com mais de 3 milhões de cópias vendidas. Ontem, ele se apresentou no Madison Square Garden, em Nova York, como parte de uma gigantesca turnê pelo país.

O retorno em grande estilo levou os críticos a se perguntarem se o cantor ou os conservadores da música country de Nashville fizeram algo pelo racismo, ou se eles realmente se importam com o assunto.

“As vendas de seu álbum dispararam porque muitas pessoas acharam que a reação foi exagerada”, explicou Sheryl Guinn, representante da organização de direitos civis NAACP em Nashville. “Não teve nenhuma consequência”, lamentou. “Ele não compareceu às premiações, mas o que importam os prêmios quando você está ganhando dinheiro?”, refletiu.

O sucesso de Wallen é um exemplo da resistência da música country, gênero acusado de projetar homens brancos em detrimento dos negros e das mulheres. “O ódio é profundo”, tuitou Mickey Guyton, primeira artista negra indicada ao Grammy nesse gênero. Ela irá interpretar o Hino Nacional no próximo domingo durante o Super Bowl.

– Privilégios dos brancos –

Durante a polêmica, Wallen pediu desculpas e prometeu “melhorar”. Em entrevista a um programa de TV, disse que “não havia sentado para refletir” se a indústria da música country era racista.

Charles Hughes, autor do livro “Country Soul: Making Music and Making Race in the American South”, disse que se sente decepcionado com uma indústria disposta a perdoar e esquecer em nome do lucro, embora não tenha ficado surpreso. Ele acrescentou que espera que a indústria “tenha mais imperativos morais, ou, pelo menos, imperativos políticos” para tomar medidas.

Segundo Hughes, Nashville precisa pensar em uma mudança estrutural. Os músicos negros de country e folk, principalmente as mulheres, conquistaram espaço na indústria. Além de promover os artistas, o autor pede à indústria que contrate mais negros.