Confiança em vez de preocupação. Otimismo no lugar de desânimo. Estabilidade e não incertezas. Esse é o clima que, aos poucos, se instala no País. Depois de dois anos de queda constante de todos os indicadores, a economia começa a dar sinais de recuperação. “Quando o consumidor se mostra pessimista, mesmo que a economia esteja rodando bem, é provável que haverá uma queda”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. “Quando ele fica otimista, inaugura-se um novo ciclo virtuoso.”

Nesse contexto, as notícias não poderiam ser mais animadoras. Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto Datafolha mostrou que a expectativa dos brasileiros em relação à economia atingiu o nível mais alto desde 2014. Agora, a população se diz mais confiante na queda da inflação, na retomada do emprego e no aumento de seu poder de compra. A sensação é compartilhada pelo mercado financeiro, pela indústria e comércio. Não à toa, o Brasil saltou da 26ª posição para a 23ª (entre 36 países pesquisados) na lista que mede o nível de otimismo das nações, segundo a consultoria Grant Thornton.

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Nenhuma moeda no mundo valorizou-se mais em 2016 do que a brasileira. Até a semana passada, a cotação do real ante o dólar havia subido 20%, uma demonstração inequívoca da renovação de forças da economia do País. Outro indicador, este ainda mais emblemático, reforça essa impressão. Segundo projeção feita pela Fundação Getúlio Vargas, o PIB do País vai cair 3,5% em 2016. Ainda é uma lástima, mas a curva descendente ficou mesmo para trás: a previsão anterior da FGV apontava para uma queda de 4%. O Fundo Monetário Internacional está em sintonia com as análises da FGV. Ele também prevê uma recessão menos severa para 2016. Segundo a instituição, o PIB vai cair 3,3%, em vez dos 3,8% projetados anteriormente.

É a primeira vez desde 2012 que o FMI vê avanços na economia brasileira. Para o ano que vem, as estimativas são cada vez mais otimistas. O Instituto Internacional de Finanças (IFF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, calcula um crescimento de 1,5% do PIB brasileiro em 2017, e de 3% em 2018. “O futuro já começou”, afirma Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. “A mudança no comando do País e na economia foi radical, muito mais do que já foi percebido. A melhora, por enquanto, se limita à atmosfera, pois as novas iniciativas estão em suspenso, aguardando a homologação do impeachment”, diz.

CENÁRIO POLÍTICO

O contexto político está diretamente ligado aos rumos econômicos do País. As trapalhadas e a irresponsabilidade fiscal do governo Dilma Rousseff levaram ao rápido declínio da economia. Com a insegurança gerada pelo processo de impeachment, os investidores se afastaram. Agora sob o comando do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o cenário econômico mudou. “Há muita esperança de que o presidente Michel Temer consiga ser mais efetivo no diálogo com o Congresso e consiga aprovar as medidas necessárias”, afirma Gustavo Loyola.

“A mudança no comando do País e na economia foi radical. O futuro já começou” - Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos
“A mudança no comando do País e na economia foi radical. O futuro já começou” – Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos (Crédito:Daniela Toviansky/AE)

“A partir daí, teremos um crescimento gradual da economia.” Para manter a marcha e evitar retrocessos, Loyola diz que é importante dar continuidade à redução da dívida em relação ao PIB e cumprir as metas de inflação. O mesmo mantra é defendido por Roberto Dumas Damas, professor do Insper. “Existe uma espécie de bilhete premiado diante do presidente e da classe política em consertar a economia e tirar proveito desse feito”, diz Damas. “Acho pouco provável que Temer deixe passar essa oportunidade.”

Até a castigada indústria automotiva, que tem amargado os piores resultados no País em mais de uma década, está prestes a rever a dramática situação. O setor espera que as vendas cresçam 9,2% em 2017. A japonesa Nissan é prova da retomada do setor. Na semana passada, a empresa anunciou a contratação de 600 funcionários para a fábrica de Resende, no Rio de Janeiro. Num cenário de desemprego brutal, trata-se de um alento significativo. As boas notícias vêm de diversos setores. A Petrobras, saqueada pela corrupção generalizada, viu suas ações subirem mais de 4% na terça-feira 19 após um longo período nebuloso. Ainda é cedo para dizer que os bons tempos estão de volta. Mas a virada já começou.

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