O indicado à presidência do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou nesta terça-feira, 7, que a volta do crescimento da economia já no fim de 2016 ou em 2017 é factível, mas tem que vir com medidas concretas, com aprovação de reformas no Congresso. Durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ele reafirmou que o ambiente global é desafiador.

“Temos a China de um lado, desacelerando, os Estados unidos com perspectiva de subir juros, a Europa recém saída de uma recessão e com crescimento baixo, o Japão com dificuldade de décadas de crescer”, disse, ponderando que esse cenário tem “algumas luzes no fim do túnel”. Segundo ele, nos Estados Unidos, o Federal Reserve só pensa em subir juros porque pode ter crescimento, a China está desacelerando, mas o receio de parada brusca não ocorreu. “E não me parece que vai ocorrer”, disse.

O economista também avaliou que a taxa de poupança no Brasil é baixa. “Mecanismos para facilitar a poupança são muito importantes, como é importante recuperar a vontade de investir. Não basta aumentar poupança, tem que reduzir incertezas”, avaliou.

Questionado sobre o elevado spread bancário no País, Ilan disse que havia um projeto de redução de spread quando foi diretor do BC, que considera importante. “É relevante para a redução do custo seguir esse projeto que começou há muito tempo”, afirmou.

O indicado à presidência do BC disse ainda que o excesso de crédito direcionado reduz efetividade da política monetária. “Não significa que não deveria existir. Tem que ter um equilíbrio”, disse.

Custo do crédito

Ilan Goldfajn afirmou que é preciso atacar “as raízes da causa” para combater o elevado custo de crédito no Brasil. Do contrário, o País corre o risco de adotar medidas que melhorem o cenário de curto prazo, mas que mantenham o problema no futuro.

“Acho que todos nós temos que trabalhar para reduzir o custo do crédito no Brasil. A dúvida é sempre qual é a melhor maneira de fazer. Temos que trabalhar nas raízes da causa, dos problemas, para que não entremos em atalhos e mecanismos de curto prazo”, disse. Ele destacou ainda que, para isso, é preciso levar em conta qual é o ambiente e quais são as leis que regem o Sistema Financeiro Nacional.

Ilan lembrou, porém, que o momento atual é de redução tanto na oferta de crédito quanto na demanda. “Há tanta incerteza macroeconômica que oferta e demanda são prejudicados. As duas estão caindo”, comentou.

O economista defendeu que parte da rentabilidade dos bancos serve para capitalizar as instituições e, consequentemente, elevar o potencial de concessão de crédito no mercado. “Não vou entrar em questões de tamanho (da rentabilidade), mas uma parte vai para capitalização, que permite o aumento do crédito. Então isso é um outro lado”, afirmou. “De qualquer forma, acho que é relevante ter mecanismos para aumentar concorrência”, acrescentou o economista.

Ilan ressaltou que não se deve deixar uma parte do crédito “na sombra”, alheio à regulação do Banco Central. Segundo ele, a instituição precisa ser capaz de regular, supervisionar e administrar o mercado de crédito para garantir a estabilidade do Sistema Financeiro.

Sobre eventuais capitalizações de instituições bancárias, o economista disse que, como ainda não assumiu a presidência do Banco Central, não tem conhecimento de situações específicas. “Mas a ideia é bancos públicos serem supervisionados e fiscalizados da mesma forma que bancos privados”, disse.

Contas públicas

Ilan Goldfajn afirmou que “colocar as contas públicas em ordem” é necessário para reconduzir a economia brasileira a uma trajetória de crescimento. Nesse sentido, estabelecer um teto para as despesas do governo é fundamental, defendeu o economista.

“Sobre as reformas que são necessárias, há bastante consenso. Precisamos colocar contas públicas em ordem”, disse Ilan. “Há uma medida anunciada, sobre questão do teto da despesa. E fundamental, porque precisamos dar ordem à dinâmica da dívida. Quem precisa investir não vê dinâmica de divida favorável. Portanto, uma reforma necessária é exatamente essa, colocar um limite para as despesas”, acrescentou.

O economista ressaltou, porém, que a execução de tais reformas não cabe ao presidente do Banco Central, que é envolvido “indiretamente” na questão fiscal.

A reforma do sistema financeiro, que permita a redução na taxa de juros de equilíbrio da economia, também é necessária, destacou Ilan. Porém, é preciso avaliar as condições para que isso possa ocorrer. “Não é uma divergência trabalhar pela queda da taxa de juros de equilíbrio, mas precisamos ver as condições. O Banco Central vai trabalhar e monitorar isso”, disse.

Conflito de interesse

A senadora da oposição Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM) usando o direito à tréplica, voltou a dizer que as críticas feitas a Goldfajn, que atuava no Banco Itaú como economista chefe não são de caráter pessoal. “Tenho ouvido que o seu nome foi muito bem recebido pelo mercado, mas eu gostaria de ver um nome indicado e que seja bem recebido pelos movimentos sociais”, salientou.

Ela voltou a dizer que há incompatibilidade em Ilan assumir o cargo, vindo do setor privado há poucos dias. “A pessoa pode saber dos interesses do setor privado e atuar em determinada direção”, argumentou.

O senador Fernando Bezerra (PSB-PE) também pediu o direto de tréplica. Segundo ele, a indicação de Ilan atende a todas as normas vigentes. “Não há nenhum arrepio”, defendeu, acrescentando que o executivo até já se desfez de ações do Banco Itaú Unibanco, que possuía como forma de remuneração quando atuava no setor privado. Mais exaltado, disse que essas afirmações não são justas e que colocam em xeque até a atuação de ex-presidentes do BC no passado. “É a interpretação de uma norma que não se aplica ao caso”, disse, em resposta à senadora Vanessa Grazziotin.

Ela falou mais uma vez e disse que não é porque se cometeu uma ilegalidade antes que se justifique uma ilegalidade agora. Ao longo de seu pronunciamento, vários parlamentares sugeriram que a votação sobre a aprovação de Ilan começasse imediatamente. “Na minha opinião está claro o conflito de interesse”, citando uma lei que regula o BC.