O tombo de 11% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) no segundo trimestre jogou um balde de água fria no mercado. Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador mostrou não só a gravidade da queda, mas também que a recuperação da economia brasileira deve demorar mais tempo do que se imaginava. A economia já não vinha bem desde 2019, quando cresceu apenas 1,1%, desempenho mais fraco dos últimos três anos. Com a pandemia, degringolou de vez. E deve se agravar no curto prazo com o fim do benefício pago pelo governo a 66,2 milhões de brasileiros, derrubando as expectativas para este e o próximo ano.

Apesar de minimizar os impactos negativos da crise, o pacote de auxílio emergencial do governo retarda o problema, mas não o elimina, segundo o coordenador do curso de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio. “A falta de gerenciamento da crise piora o cenário e devemos levar até três anos para levantar desse tombo”, explica Sampaio. Pelo Monitor do PIB feito pela FGV, divulgado dia 18, a retração da economia brasileira foi um pouco menor: 8,7% no segundo trimestre, ante os três meses anteriores. Mesmo menor, o número coloca o País oficialmente em recessão técnica, quando o recuo da atividade ocorre por dois trimestres seguidos. O resultado foi o pior já vivido pelo País desde 1980, diz a FGV. O Monitor também apontou queda de 11,6% no consumo das famílias, que vinha sustentando os números do PIB.

Diante do crescimento do desemprego, superando a casa dos 13%, a cautela das pessoas se intensificou, o que deve comprometer qualquer possibilidade de retomada para o segundo semestre, explica a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte. “A confiança está abalada e a desigualdade está cada vez mais gritante com a pandemia”, diz. A especialista acredita na queda do PIB alinhada às projeções do FMI: 9,1%. “Estou pessimista, mesmo com o plano emergencial, que não vai durar tanto quanto a crise.”

Apesar da tímida recuperação em junho, os economistas consultados pelo Banco Central para o relatório Focus estimam queda de 5,6% para a economia brasileira no ano. Já o Banco Mundial prevê baixa de até 8% para o Brasil, o que representa a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra. Na Europa, países como Alemanha, Reino Unido e França também contabilizaram perdas gigantescas. A diferença, segundo especialistas, está na condução dos problemas sanitários e financeiros. Lá, os programas de recuperação foram mais robustos do que o brasileiro, e atenderam com mais eficiência as empresas. Os governos mostraram mais coordenação, o que permitiu mais confiança e garantirá uma retomada mais rápida do que a do Brasil.