O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou por telefone nesta terça-feira (3) com o mulá Baradar, líder político dos talibãs, sobre o processo de paz, um diálogo classificado como “muito bom”, apesar de relatos de ataques insurgentes contra bases militares no Afeganistão que rompem a trégua parcial acordada em 22 de fevereiro.

“Tive uma conversa muito boa com o líder dos talibãs”, disse Trump à imprensa na Casa Branca. “Não queremos violência”.

“A relação que tenho com o molá é muito boa. Tivemos uma conversa boa, longa, hoje e, vocês sabem, eles querem dar fim à violência”, afirmou.

O milionário republicano acrescentou que dar fim às hostilidades é “um interesse comum” dos EUA e dos talibãs, notando que o governo de Cabul pode ficar “reticente” em concretizar o acordo.

“Eles se saíram muito bem com os Estados Unidos por muitos anos, muito além das forças armadas, se você olhar para todo o dinheiro que gastamos no Afeganistão”, afirmou Trump.

– Aumento da violência –

Segundo uma transcrição da ligação divulgada pelos talibãs, Baradas pediu para Trump adotar “ações resolutas para a retirada das forças estrangeiras do Afeganistão”. A ligação durou 35 minutos.

Nas últimas 24 horas, o aumento da violência por parte do grupo insurgente colocou em xeque seu desejo de negociar com o governo afegão.

O Talibã realizou 33 ataques em 16 das 34 províncias do país, segundo o porta-voz do ministério do Interior, Nasrat Rahimi. “Seis civis foram mortos e 14 ficaram feridos. Oito inimigos também foram mortos e 15 ficaram feridos”, escreveu no Twitter.

Além disso, dois soldados foram mortos em um ataque na província de Kandahar, no sul, anunciou o governo. Quatro membros das forças de segurança também morreram em Logar, disse à AFP Didar Lawang, porta-voz do governador da província.

Esses atos de violência ocorreram após nove dias de trégua parcial, em que o número de ataques no Afeganistão reduziu significativamente.

Essa redução dos combates foi imposta por Washington aos insurgentes como condição prévia para um acordo assinado no último sábado em Doha.

Nesse acordo, os Estados Unidos se comprometeram com a retirada total de suas tropas do Afeganistão em 14 meses, em troca de garantias de segurança dos rebeldes.

O Talibã também concordou em iniciar um diálogo com o governo, sua oposição e a sociedade civil, a fim de tentar chegar a um acordo sobre o futuro do país. As negociações estão programadas para começar em 10 de março.

– Contradições –

Mas enquanto o presidente Ashraf Ghani anunciou no domingo a extensão da trégua parcial, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse à AFP na segunda-feira que a trégua havia terminado e que os insurgentes retomariam suas operações contra as forças de Cabul.

Segundo o acordo de Doha, não ratificado pelo governo afegão, um eventual cessar-fogo é apenas um “elemento” das discussões que estão por vir e não uma obrigação para elas ocorrerem.

O presidente afegão, no entanto, rejeitou um de seus principais pontos, a libertação de 5.000 prisioneiros do Talibã em troca de 1.000 membros das forças afegãs detidos pelos rebeldes.

As contradições de Washington podem explicar essa disputa.

Enquanto os Estados Unidos consideraram as libertações “um objetivo” que “prometeram alcançar” no acordo com o Talibã, Washington simplesmente se referiu a “conversas” com os insurgentes “para determinar a possibilidade de liberação de um número significativo de prisioneiros”, em uma declaração americano-afegã publicada no sábado.

Agora, o Talibã faz dessa medida um pré-requisito para qualquer início de negociação, disse Suhail Shaheen à AFP.

Embora Cabul tenha enviado delegados a Doha para se preparar para as próximas conversas, “nossa delegação não encontrou a deles”, disse.

“Não admira que Ghani relute em libertar os prisioneiros: eles são uma de suas poucas alavancas”, tuitou Vanda Felbab-Brown, pesquisadora do Brookings Institution, um think tank americano, para quem a violência vai “inevitavelmente” aumentar.

“O Talibã chegou onde está graças aos seus rifles (…) Portanto, devem permanecer ativos no campo de batalha para poder vencer na mesa de negociações, como fizeram com os americanos”, acredita Ahmad Saeedi, analista de Cabul.

Questionado pela rede americana Fox News, o secretário de Estado Mike Pompeo se mostrou otimista. “Eu vi muitos comentários. Até agora está tudo bem”.