FISCALIZAÇÃO Atuação de militares na proteção da Amazônia atrapalha operações do Ibama: governo não tem estratégia
para salvar a floresta (Crédito:EDVALDO)

O Brasil entrou numa encrenca monumental. O desleixo do presidente Jair Bolsonaro com a Amazônia expôs o País a uma situação complexa e vexatória, que envolve alguns dos maiores banqueiros do mundo e poderá ter consequências econômicas desastrosas. Segundo noticiou o jornal Financial Times, um grupo de megainvestidores, que administra um fundo de mais de US$ 3,7 trilhões, ameaça deixar o Brasil caso a destruição da floresta não seja interrompida. Uma carta com este alerta, subscrita por 29 instituições financeiras, foi entregue ao governo brasileiro há duas semanas. Motivos para o mercado global estar apavorado não faltam. Os últimos indicadores divulgados, quarta-feira 1, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que a destruição só cresce e bateu recorde no mês passado. Foram detectados 2.248 focos de incêndio, número mais alto desde 2007. Outros indicadores de devastação, como o aumento da área desmatada, também pioraram de forma acentuada nos últimos 18 meses.

Os investidores temem que o desastre ambiental aumente o risco soberano do Brasil e começam a deixar o País para trás nos seus projetos financeiros e comerciais. A ameaças de retaliação vêm de todas as partes. Os franceses estão da linha de frente da ruptura do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Grandes redes varejistas inglesas preparam-se para interromper os negócios com os brasileiros por causa da política destrutiva do governo Bolsonaro. Empresas nacionais, inclusive as gigantes da alimentação e da mineração, podem perder o acesso ao dinheiro dos mercados mundiais ou verem seu custo financeiro ficar cada vez mais alto. Outro problema é de reputação: marcas globais evitarão se vincular a um governo incendiário, que estimula a destruição das florestas. Qualquer empresa que tenha algum tipo de relação em sua cadeia de suprimentos com as atrocidades ambientais cometidas na região poderá entrar em uma lista de exceção.

Preocupado especialmente com o acordo com a União Europeia, Bolsonaro já percebeu que o cerco internacional está se fechando e tenta reagir à pressão. Numa videoconferência dos chefes de Estado do Mercosul, quinta-feira 2, ele declarou que o governo busca “desfazer opiniões distorcidas sobre a região.” Disse também que há um esforço para mostrar ações na área ambiental. O que se vê, no entanto, é uma ausência de políticas de conservação e de preservação da Amazônia. A principal iniciativa do presidente foi o envio das Forças Armadas para combater focos de incêndio, em maio, em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Mas a presença militar não apresentou resultados práticos e serviu mais para atrapalhar os fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que atuam lá há 30 anos, do que para contribuir com o trabalho de proteção. De maneira descrita como atabalhoada e até mal-intencionada, os militares assumiram o controle das operações e descartaram as ações planejadas pelo Ibama para enfrentar os madeireiros.

Enquanto isso, a floresta arde e é cortada sem piedade. Em junho, os focos de incêndio no bioma Amazônia, identificados com base em imagens de satélite, aumentaram 19,6% em relação ao mês anterior, quando foram registrados 1.880 pontos. Pela primeira vez em treze anos, o número de queimadas superou a marca de 2 mil. Quanto à área desmatada, o crescimento é igualmente alarmante. Um levantamento do Inpe indicou, em maio, um aumento de 34% nos alertas de corte raso da floresta em relação à abril. Nos quatro primeiros meses de 2020, o desmatamento cresceu 55% se comparado com o mesmo período de 2019. Não restam dúvidas de que a maior reserva ambiental do planeta corre sério risco de destruição e a preocupação internacional é totalmente procedente. Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nada fazem para proteger a Amazônia. E, por conta disso, o Brasil avança para se tornar um pária internacional.