Restringir a migração pode limitar produtividade, alerta FMI

Restringir a migração pode limitar produtividade, alerta FMI

"SegundoImplementar políticas restritivas contra migrantes legais e refugiados pode aliviar sobrecarga da infraestrutura e dos serviços de um país, mas também desperdiçar oportunidade econômica no longo prazo, aponta o órgão.Restringir a migração pode aliviar a sobrecarga da infraestrutura e dos serviços de um país, mas também minar ganhos de produtividade e riqueza, desperdiçando uma "oportunidade valiosa" de impulsionar a economia no longo prazo, aponta estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado nesta terça-feira (15/04).

Ao mesmo tempo, argumentam os autores da análise, regras mais restritivas para migrantes e refugiados não tendem a impedir que eles deixem seus países; na prática, esses fluxos migratórios acabam sendo redirecionados para outras regiões do planeta.

"Implementar políticas restritivas de migração e refúgio pode, em alguns casos, interromper uma oportunidade valiosa de impulsionar a produtividade e o resultado potencial, ao mesmo tempo em que transfere o ônus da superlotação para outro lugar", afirma o estudo.

No curto e médio prazo, países anfitriões que adotam políticas de migração mais restritivas têm uma modesta redução do produto interno bruto (PIB), com um pequeno impulso à produção em outras regiões devido ao aumento da oferta de mão de obra.

Assim, políticas mais restritivas que diminuam em 20% os fluxos migratórios a um grupo de países podem aumentar a afluência a outras regiões em 10% e incrementar sua produção em 0,2% em cinco anos.

Mas os efeitos na produtividade podem ser maiores se as habilidades dos migrantes e refugiados complementarem as da população local, suprindo demandas ainda não atendidas.

A capacidade de absorção do país anfitrião também conta, sendo mais limitada em economias emergentes e em desenvolvimento. Porém, é neste grupo de países que, segundo o FMI, os benefícios de uma boa integração de migrantes podem ser "particularmente elevados".

O relatório do FMI defende a necessidade de medidas para aliviar a pressão sobre os serviços e infraestrutura dos países que recebem migrantes, priorizando o investimento público e o desenvolvimento do setor privado. Isso poderia, segundo a entidade, contribuir para que os benefícios da migração se "materializem mais cedo".

A cooperação internacional também é apontada como uma forma de ajudar a distribuir de maneira mais equitativa os custos de curto prazo associados à recepção de fluxos grandes e inesperados de migrantes.

Migrantes respondem por pelo menos 3,7% da população global

Segundo o FMI, a população mundial de migrantes legais e refugiados chegou, em 2024, a 304 milhões – 3,7% da população global e quase o dobro do que foi registrado em 1995. Dessas pessoas, uma em cada seis eram refugiadas ou requerentes de asilo.

O estudo também contraria a percepção de que nações ricas estariam inundadas de imigrantes, uma narrativa propagada por políticos anti-imigração: economias emergentes e em desenvolvimento abrigam três em cada quatro refugiados e absorvem cerca de 40% dos migrantes legais.

Que nações mais pobres estejam recebendo uma quantidade "desproporcional" de refugiados pode ser um problema, já que eles tendem a ir para a economia informal. "Fortalecer os incentivos para a inserção no trabalho formal — inclusive por meio de sistemas de impostos e [programas de] transferência [de renda] bem desenhados e melhor acesso a serviços públicos de saúde e educação — pode ajudar essas economias a colher os benefícios desses fluxos migratórios", aponta o relatório.

FMI destaca importância de migrantes em contexto de "perspectiva de crescimento anêmico"

O FMI destaca que os migrantes geralmente possuem maior mobilidade geográfica do que os nativos, o que lhes permite reagir com mais rapidez às mudanças no mercado. Além disso, eles costumam ser mais jovens – assim como os refugiados –, o que pode gerar ganhos econômicos que superam os custos fiscais.

Embora os refugiados frequentemente enfrentem dificuldades para se inserir no mercado de trabalho ou encontrar oportunidades compatíveis com suas qualificações, se forem devidamente integrados, os benefícios de suas contribuições são considerados maiores – especialmente no longo prazo.

O FMI ressalta a importância das políticas de migração e refúgio "no contexto de uma perspectiva de crescimento anêmica e de crescentes pressões demográficas".

A migração também afeta a inflação numa via de mão dupla: ao mesmo tempo em que a maior disponibilidade de trabalhadores contém a alta nos preços ao conter também a alta nos salários, o súbito crescimento populacional também pode estimular a demanda por bens e serviços, pressionando os preços no curto prazo. No longo prazo, porém, os benefícios se sobrepõem.

ra (EFE, ots)