O Iraque começou a exumar, nesta terça-feira, os restos mortais de mais de 70 curdos, incluindo crianças, vítimas do regime de Saddam Hussein, informou à AFP o chefe do serviço forense, responsável pela identificação de centenas de milhares de iraquianos executados ao longo de décadas.

“Mais de 70 corpos, incluindo os de mulheres e crianças – do nascimento até dez anos – foram encontrados numa vala comum em Tell al-Sheikhiya”, 300 quilômetros ao sul de Bagdá, disse Zaid al-Yussef.

Estes são apenas os corpos encontrados na camada superior desta vala comum, enquanto “pode haver uma segunda camada mais profunda” com corpos adicionais, acrescentou.

“As evidências reunidas indicam que foram executadas sumariamente em 1988” em plena campanha “Anfal” de Saddam Hussein, informou Yussef.

O ditador, derrubado em 2003 pela invasão liderada pelos Estados Unidos, foi enforcado antes de responder na Justiça pelo crime de “genocídio” pela morte de aproximadamente 180 mil curdos no âmbito dessa operação liderada por seu regime em 1987 e 1988.

“As mulheres têm os olhos vendados e foram mortas com tiros na cabeça, mas também carregam balas indiscriminadas em várias partes do corpo”, disse o responsável iraquiano.

Esta vala comum foi descoberta no sul da província de Muthanna, no sul desértico do Iraque, onde ficava a prisão de Nugrat Salman, onde muitos curdos e opositores políticos de Saddam Hussein morreram.

Este sinistro centro de detenção foi amplamente discutido durante o julgamento do presidente deposto em 2006, com testemunhas curdas e sobreviventes evocando humilhações, estupros e a detenção de crianças.

Durante décadas, milhares de corpos de vítimas de todas as comunidades do país multiétnico foram enterrados em valas comuns em todas as províncias do Iraque.

O grupo Estado Islâmico (EI), derrotado no Iraque no final de 2017, deixou para trás mais de 200 valas comuns com capacidade para 12 mil corpos, segundo a ONU.

As atrocidades jihadistas são, no entanto, apenas o capítulo mais recente de uma série de execuções sumárias em massa.

Desde o início da guerra Irã-Iraque, em 1980, os conflitos se sucederam, antes de o país mergulhar na guerra civil e na violência sectária ou jihadista.

Segundo as autoridades, durante os anos 1980 e 1990, o regime de Saddam Hussein matou mais de um milhão de pessoas.