Nos últimos dias os brasileiros foram arrastados para dentro de uma história escabrosa com todos os ingredientes de sujeira, malversação de dinheiro público e esquemas nada republicanos típicos de gestões eivadas por práticas desabonadoras. O Covaxingate, como vem sendo chamado já está se transformando no Mensalão do governo Bolsonaro, com traços muito parecidos em relação às tramoias que macularam a passagem do demiurgo Lula pelo Planalto. O que importa nessa história? O esquema está claro. A transação toda irregular, com empresa de fachada, sobrepreço na compra, dispensa de licitação, intermediação indevida, contrato acelerado sem aval de órgão responsável e o aval do próprio presidente mostram como o quadro todo é errado. Até aqui, a resposta do governo para a transação suspeita, com intermediador e tudo, na aquisição da Covaxin foi mandar investigar quem denunciou e não a denúncia em si. Fantástico o delírio montado na cúpula bolsonarista. Ontem, o secretário geral da presidência da República, Onyx Lorenzoni, tal qual um gângster, abertamente em uma coletiva na qual proibiu perguntas, tentou coagir a testemunha em público, com ameaças abertas, que levaram a CPI da Covid a ter de pedir proteção policial para o parlamentar envolvido, Luís Miranda. Coação e intimidação, crimes previstos em lei, praticados em rede nacional por uma autoridade da República. Antes disso, o Governo Federal, em uma agilidade que não existiu em nenhum outro caso de aquisição de imunizantes, já empenhou o dinheiro total para a compra da Covaxin, guardou quase R$ 1,6 e fez questão de anunciar pessoalmente, com fanfarras e salvas, a assinatura do contrato e a dispensa de licitação para a compra às pressas da vacina. Tudo fora do eixo. A Covaxin foi a ÚNICA VACINA ATÉ AQUI NA QUAL A AQUISIÇÃO NÃO FOI FEITA DIRETAMENTE COM O PRÓPRIO FABRICANTE e, sim, através de um intermediador. Por que? O contrato está com diversas pontas abertas. O próprio Ministério Público Federal têm questionado isso. É o resumo de uma balbúrdia sem fim – mais uma – gerada diretamente de dentro do Planalto.
É preciso repetir para ficar bem claro: o tipo de providência que o Planalto achou mais importante tomar nesse momento foi o de investigar o denunciante – não a denúncia – e de produzir um dossiê contra ele (“levantando seus podres”), que naturalmente servirá de material para o já conhecido e abominável gabinete do ódio. Pergunta que não cala: assim como o bandido Roberto Jefferson, que denunciou os escabrosos esquemas do Mensalão, se é, foi, ou será transformado em bandido, Luís Miranda, em que isso responde a denúncia? Presidente Bolsonaro, o senhor foi alertado ou não para as irregularidades do contrato? Se alertado, porque foi adiante e não tomou as providências? O que um intermediário com escritório de fachada está fazendo nessa história, (dispensado até de licitação) já que todos os demais imunizantes foram tratados diretamente com os laboratórios? Por que de tamanho sobrepreço para uma vacina que virou a mais cara do Brasil e não tem sequer aval definitivo da Anvisa? Por que da pressa em fechar justamente esse contrato, quando postergou o quanto pôde compras de Pfizer pela metade do preço oferecido na Europa, da Coronavac, que já estava disponível aqui, e mesmo da Moderna, que não foi sequer cogitada, e Jessen, em dose única? Qual a razão de reservar R$ 1,6 bi em verba para tal negócio (não foi feito em nenhum outro caso), atrapalhando a própria alocação de recursos da Saúde para o combate à doença? RESPONDA PRESIDENTE! É sobre isso que o senhor e seu governo tem de falar. E não ficar ameaçando com mensagens dirigidas e dossiês aloprados testemunhas que lhe encalacram. RESPONDA!!!!