Respirando arte

Respirando arte

Gustavo Autran Fotos Orestes Locatel Uma cômoda D. Maria fabricada no século XVIII chama a atenção de quem entra no apartamento da marchande e galerista Silvia Cintra, em São Conrado, zona sul carioca. Presente de sua ex-sogra, proprietária de um antiquário em Portugal, a peça destoa por quebrar o predomínio quase que absoluto das obras de arte contemporânea distribuídas por todos os cômodos da casa. Só na sala de estar, estão espalhadas dezenas de telas, instalações e objetos que levam as assinaturas de renomados artistas plásticos nacionais – a exemplo do carioca Daniel Senise, do paulista Nelson Leirner e do pernambucano Tunga. Muitos deles são representados pela galeria que Silvia mantém na Gávea com a filha, Juliana, que ocupa um prédio de três andares com 400 metros quadrados de área. Respirando arte Há seis anos, Silvia trocou o duplex que dividia com a filha na Gávea pela orla de São Conrado porque, em suas palavras, ficou com ?saudosismo do mar?. ?Cresci na Avenida Atlântica mas, durante quinze anos, morei com minha única filha em uma cobertura na Gávea. Aproveitei para fazer a mudança quando ela resolveu casar. Além dessa vista maravilhosa, fiquei realizada quando descobri que o prédio tinha quadra de tênis, uma das minhas maiores paixões?, conta Silvia. A opção em morar perto da praia exigiu cuidados especiais para preservar o seu rico acervo doméstico, composto por pelo menos cinquenta peças. Além dos três desumidificadores de ar, necessários para minimizar os efeitos destrutivos da maresia, Silvia passou a adquirir peças com materiais mais resistentes – como o quadro todo em fórmica do fotógrafo e artista plástico Geraldo de Barros e o painel em borracha assinado pelo britânico Stephen Brandes, exposto na Bienal de Veneza e adquirida pela galerista há quatro anos. Respirando arte Na saleta próxima à sala de jantar está um dos maiores xodós da colecionadora: uma tela assinada por Alfredo Volpi, adquirida no início dos anos 80 e feita especialmente para Silvia. ?Lembro que cheguei até ele por intermédio de seu melhor amigo, o (pintor e escultor) Bruno Giorgi. No nosso encontro, disse que queria um quadro que tivesse uma bandeira, um mastro e uma vela. Em apenas dois meses o trabalho ficou pronto?, lembra. Perto do quadro do pintor ítalo-brasileiro há outro objeto com grande valor sentimental – uma mesa em fórmica feita por ninguém menos que Iberê Camargo, nos anos 70. ?Essa é uma relíquia de família. Lembro de minha mãe, que me ensinou muito sobre a importância de se conviver com obras de arte. Ela detestava que colocassem os pés sobre ela. Mas todo mundo esquecia?, diverte-se. Respirando arte As peças do mobiliário também levam assinaturas estreladas de ícones do design. A mesa redonda com tampo de vidro que fica próxima à janela é uma criação de Franz Weissmann. Já as quatro cadeiras de forro azul são da consagrada dupla Andrew Morris e Bruce Hannah. Há ainda uma poltrona toda revestida em couro marrom da designer de móveis americana Florence Knoll. O projeto assinado pelo arquiteto e designer Ivan Rezende privilegia os tons neutros nas paredes e nos móveis. Tudo para não roubar a atenção do acervo da colecionadora. Sabiamente, ela conseguiu quebrar a monotonia com as telas coloridas de Antonio Dias e Carlos Vergara. ?A decoração foi pensada realmente com o intuito de abrigar uma coleção de arte. Então, criar uma base mais neutra é fundamental para ressaltar o que está na parede?, diz Silvia.