O cenário é alarmante: as reservas subterrâneas de água potável no mundo estão enfrentando uma crise sem precedentes, com níveis críticos que ameaçam esgotar-se a uma velocidade assustadora. Um recente estudo da Unesco revela que, em apenas 30 anos, o nível dos aquíferos subterrâneos caiu 20% em diversas regiões do planeta.

Essa situação emergencial coloca em risco não apenas a disponibilidade do líquido vital para as gerações presentes, mas também lança uma sombra ameaçadora sobre o futuro. “É o retrato de um planeta cada vez mais seco”, diz a engenheira ambiental Debra Perrone. Pesquisadora da Universidade da Califórnia, nos EUA, do Programa de Estudos Ambientais, ela faz parte de uma equipe que por cinco anos analisou 75% de todos os aquíferos conhecidos.

Eles chegaram à conclusão de que a água potável, recurso indispensável para a sobrevivência humana e funcionamento saudável dos ecossistemas, está enfrentando ameaça iminente de escassez. “Esse estudo foi movido pela curiosidade. Queríamos compreender melhor o estado das reservas globais”, conta Debra.

Reservas subterrâneas de água potável estão desaparecendo
(Divulgação)

“Esse estudo foi movido pela curiosidade. Queríamos compreender melhor o estado das reservas globais.”
Debra Perrone, engenheira ambiental

Publicado na revista científica britânica Nature, na última semana de janeiro, o relatório mostra que o declínio acelerado do nível das fontes subterrâneas é duas vezes mais elevado do que o esperado, em qualquer período de tempo.

A pesquisa é a primeira a analisar os níveis abaixo da terra em escala global. Foram estudados mais de 170 mil poços de água em 40 países e constatado que os níveis diminuíram em 30% dos aquíferos nas duas primeiras décadas do século 21.

Recurso finito

Embora sejam tratadas como um recurso renovável, as fontes podem levar décadas ou até mesmo séculos para se recuperarem, após serem esgotadas. Para se ter uma ideia da dificuldade de recuperação de um lençol freático, a água subterrânea leva em média três anos para se recuperar da seca. “Se as pessoas bombeiam sem antes permitir que sejam recarregadas, os níveis continuam caindo, o custo do bombeamento aumenta e a terra afunda”, explica o hidrólogo Hoori Ajami.

Segundo a ONU, as fontes subterrâneas representam 99% de toda a água doce líquida da Terra e, atualmente, fornecem metade do volume captado para uso doméstico pela população global e cerca de 25% de todo o volume utilizado para irrigação.

“O bombeamento excessivo reduz o nível do lençol freático, criando uma espiral descendente na qual a restauração do aquífero se torna cada vez mais difícil”, afirma o hidrologista norte-americano Adam Schreiner-McGraw.

*Estagiário sob supervisão de Luiz Cesar Pimentel.