Os integrantes do Republicanos, partido presidido por Marcos Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), já não escondem que estão insatisfeitos com o presidente Jair Bolsonaro, acusado de não ter dado a devida atenção para uma demanda da organização religiosa e o mandatário pode pagar caro por isso. A indicação do também bispo licenciado Marcelo Crivella para a embaixada brasileira na África do Sul foi negada pelo país africano e abriu uma ferida que ainda não cicatrizou.

Nos bastidores do Republicanos, em Brasília, há quem diga que não houve esforço suficiente por parte do capitão para que a nomeação acontecesse. A Iurd contava com a ida de Crivella para a África do Sul porque a entidade tem sido acusada de desviar dinheiro no continente africano e a presença do ex-prefeito do Rio de Janeiro na região poderia estancar a saraivada de denúncias contra os bispos suspeitos das operações financeiras tidas como ilegais. Crivella é sobrinho do bispo Edir Macedo, o principal líder da igreja.

A negligência de Bolsonaro com os bispos já apresenta consequências dentro do Republicanos. Lideranças do partido prometem até repensar a maneira como compõem a base de apoio de Bolsonaro. A luz amarela acendeu na legenda e o governo pode ter algumas surpresas partindo de um deputado ou outro. Querem mais atenção do governo às suas demandas. Além do episódio da Embaixada na África do Sul, muitos estão enciumados com o fato de o PL e o PP terem assumido o protagonismo junto ao presidente, enquanto que o Republicanos virou o patinho feio dentro da disputa na base aliada por mais benesses.

Ao estilo Centrão, a estratégia é aguardar o desenrolar das pesquisas e identificar quais as melhores opções que teriam no processo eleitoral. Hoje, a tendência de queda do mandatário dá novos nortes para ao Republicanos. O partido foi fundado, em 2005, por influência do ex-vice-presidente José Alencar (2003-2010), deu sustentação ao ex-presidente Lula e segue a linha de ser base de apoio aos governantes. São pragmáticos. Por isso, não haveria dificuldade em fazer a transição para outra base política.

De olho nos palanques para os governos estaduais, integrantes do Republicanos já teriam informações de que a coligação com Bolsonaro não agregaria votos. Especialmente, porque o presidente quer impor os seus nomes e a sigla tem sido preterida. A ordem interna é manter as projeções dos principais nomes e desembarcar do governo no início das eleições. Até lá vão assistir de camarote as negociações do presidente.