Agonia é a melhor palavra para definir a relação entre o Republicanos e o presidente. Ambos sabem que a parceria atualmente sobrevive só nas aparências. O deputado Marcos Pereira, que é presidente da legenda, já avisou, na última semana, que Bolsonaro “atrapalha” o partido no projeto de eleger mais parlamentares. Ficar com o ex-capitão significa ter papel de coadjuvante entre as siglas do Centrão. Pior, com a popularidade em baixa, quem estiver junto com o candidato do Planalto terá mais ônus do que bônus.

CONTRAGOLPE Distante do presidente, o general Mourão se filiou ao Republicanos: concorre ao Senado (Crédito:Antonio Cruz/agência brasilfotos)

Os primeiros indícios de distanciamento surgiram quando o senador Flávio Bolsonaro deixou o Republicanos e se filiou ao Patriotas, em meados de 2021. O senador é o articulador oficial do mandatário junto aos partidos e sua saída naquele momento foi entendida como um sinal do desprestígio da legenda. De fato, a filiação de Flávio e de seu pai, na sequência, ao PL de Valdemar Costa Neto, em novembro, confirmou a preferência e confiança por outras legendas do Centrão: Pereira sentiu o golpe.

Na última semana, em conversa sobre a campanha, o presidente do Republicanos revelou toda a sua insatisfação ao senador Flávio. Marcos Pereira está fora do grupo que discute a reeleição e não se sente valorizado. Conselheiros de Bolsonaro já pediram que ele participe das negociações, mas até o momento o mandatário não tem se importado com a perda do aliado. A data limite para uma solução é 2 de abril, quando se encerra a janela de filiações partidárias.

O desembarque do governo era dado como certo em dezembro. Nos bastidores, o comentário era que uma candidatura alternativa poderia atrair o partido que não via nenhum movimento do mandatário para acomodar a sigla. Entretanto, nenhuma outra candidatura decolou o suficiente para seduzir o partido. A opção pelo PT esbarra na pauta de costumes. Há ainda uma resolução da legenda que prevê que nenhuma federação será formada, independente da tendência ideológica.
O Republicanos esperava que candidatos de peso, como ministros do governo pudessem ser levados para disputar as eleições pela legenda e viram o contrário. Bolsonaro tem assediado parlamentares para migrarem ao seu partido (PL). Além disso, a bancada que o Planalto investe fortemente em todos os estados é do PL e do PP, exclusivamente. A chance de o diálogo ser retomado é ínfima.

O Governo está mais próximo de pastores rivais a Universal como Malafaia, Feliciano e Magno Malta

DESLEIXO Bolsonaro não emplacou o bispo Marcelo Crivella para a embaixada da África do Sul (Crédito:Andre Coelho)

De olho no poder de fogo dos partidos, Bolsonaro menospreza o Republicanos, que tem apenas um senador, Mecias de Jesus (RR), e nenhum governador. Na Câmara, a bancada tem apenas 33 deputados, inferior ao PL (42) e ao PP (43), sendo que o PL tende a inflar com a vinda de parlamentares do União Brasil, principalmente, durante a janela partidária que se abre em março. Nos municípios, a legenda também perde, somando 211 prefeitos (o PP tem 685 e PL, 345).

Outro tema em disputa é o setor evangélico. Os grupos mais fortes dentro no Congresso não estão ligados a Igreja Universal do Reino de Deus, onde o deputado Marcos Pereira é pastor licenciado. A disputa por fiéis faz parte do pano de fundo no cenário bolsonarista. O Republicanos foi concebido dentro da Igreja de Edir Macedo e Bolsonaro tem mais proximidade hoje com os pastores Silas Malafaia, Marco Feliciano e Magno Malta, que integram um grupo evangélico distinto. Ainda sobre a Universal, há o imbróglio da nomeação do bispo Marcelo Crivella para a Embaixada da África do Sul, que não se concretizou e a tibieza do presidente em defender os pastores nos conflitos em Angola foi clara.

O contragolpe do Republicanos veio com a filiação do vice-presidente, general Hamilton Mourão, anunciada para ocorrer no dia 16 de março. Ele deve concorrer ao Senado pelo estado do Rio Grande do Sul. A tratativa é simbólica, especialmente na semana em que Bolsonaro desautorizou Mourão falar sobre a guerra da Rússia. Ele já foi avisado que não tem chance de ser vice na chapa de reeleição. A posição do general é confortável, por estar em um partido que não apoia o presidente.

Cálculos imprecisos do Planalto não dão conta da importância do Republicanos. Além de verba partidária e tempo de televisão, a capilaridade social do partido e a hegemonia frente aos evangélicos são salutares. As igrejas espalhadas por todo o País são imprescindíveis células de apoio que vem sendo desconsideradas pelo mandatário. O senador Mecias de Jesus diz que o cenário mais provável, dentro do atual quadro, é de “neutralidade”, isso liberaria os correligionários para fechar apoio com quem bem entendessem pelo Brasil.