República Democrática do Congo vai às urnas sob forte tensão

República Democrática do Congo vai às urnas sob forte tensão

Um dos países mais conturbados do mundo enfrenta uma prova crucial no domingo (30), dia em que a República Democrática do Congo (RDC) realiza eleições várias vezes adiadas diante do temor de cenas de violência.

As eleições concluem anos de turbulência política, o que aumenta os temores de que esse volátil gigante da África Central possa cair em uma espiral de violência.

Vinte e um candidatos disputam suceder a Joseph Kabila, que aos 47 anos está no comando há quase 18 anos.

Se tudo correr bem, um deles tomará posse em 18 de janeiro, na provável primeira vez que a RDC conseguirá uma transição pacífica desde sua independência em 1960.

As perspectivas de conseguir isso são poucas, porém, à medida que aumentam as preocupações em relação à credibilidade da votação.

As eleições de domingo serão as primeiras presidenciais do país em sete anos.

Em princípio, ocorreriam em 2016, quando Kabila, no poder desde 2001, alcançou o limite de dois mandatos. Ele permaneceu no cargo, porém, evocando uma cláusula provisória da Constituição.

Esse gesto provocou protestos violentamente reprimidos e que deixou muitos mortos.

Depois, houve três adiamentos eleitorais – seguidos na quarta-feira por uma quarta extensão em duas regiões abaladas pela violência – e uma controvérsia sobre a introdução de urnas eletrônicas.

Na quarta-feira, os presidentes de Angola, Botsuana, Namíbia, Zâmbia e a vizinha República do Congo pediram eleições “pacíficas, livres, democráticas e transparentes” e expressaram profunda preocupação com a violência.

Em 1996-1997 e em 1998-2003, a RDC foi palco de duas terríveis guerras.

A segunda foi chamada de a “Grande Guerra Africana” pelos milhões de mortos e desabrigados que ficaram para trás.

– Poderoso trio à sombra –

A eleição presidencial acontece junto com as legislativas e municipais e conta com 21 candidatos, três deles com chance real de vitória: Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior linha-dura; Felix Tshisekedi, líder do antigo partido de oposição União pela Democracia e Progresso Social (UDPS); e Martin Fayulu, um legislador pouco conhecido e ex-executivo do setor de petróleo.

Analistas apontam ainda para outro poderoso trio. Embora seus nomes não estejam nas principais listas, é provável que exerçam muito mais poder à sombra, independentemente de quem vencer.

Um deles é o próprio Kabila, que pessoalmente selecionou o leal Emmanuel Shadary como candidato de seu partido, gerando rumores sobre seu retorno às eleições de 2023.

Os outros são um ex-líder de milícia, Jean-Pierre Bemba, de 56 anos, e Moise Katumbi, de 53, um rico empresário e ex-prefeito da província de Katanga. Os dois foram removidos da corrida para as eleições e apoiam Fayulu nos bastidores.

– Voto dos jovens –

Dois terços dos cerca de 80 milhões de pessoas na RDC têm menos de 25 anos, o que significa que uma “Geração Kabila” pode ter muito a dizer.

Apesar dos muitos problemas que cercam as eleições, alguns jovens eleitores, entrevistados pela AFP, disseram que iriam às urnas e que a reforma econômica era o que mais importava para eles.

“Queremos que as coisas mudem. Não podemos viver assim”, afirma Kalumba Mwewa, de 24, morador de Lubumbashi, capital da província de mineração de Katanga.

Mwewa explica que estudou para ser mecânico, mas não conseguiu encontrar trabalho. Hoje, ganha a vida cavando ilegalmente cobre e cobalto.

Disse ainda está pensando em votar em Fayulu. “Talvez, se eu votar nele, as coisas mudem”, acrescentou.