Não faz muito tempo que historiadores e arqueólogos eram unânimes ao afirmar que todas as grandes civilizações surgidas na 39América tiveram origem a partir do domínio de monarcas absolutos, frequentemente considerados deuses. Agora, a máxima já não é mais verdadeira. Pesquisadores da Universidade Purdue, dos Estados Unidos, constataram que a cidade-estado mexicana de Tlaxcallan, atual Tlaxcala, era governada por um Senado desde a sua fundação, em 1250 d.C. Após décadas de escavações arqueológicas, a equipe coordenada pelos professores Richard Blanton e Lane Fargher chegou à conclusão de que o modelo de organização política das cidades-estados da Grécia Antiga também existiu nesses locais. “Trata-se de uma novidade completa”, diz a arqueóloga da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, Ruth Künzli. “Até agora tínhamos visto trabalhos com os incas e os maias, que foram altas civilizações, mas que tinham o poder centralizado.”

Arquitetura

O principal indício da existência do modelo republicano tem apoio na arquitetura da cidade, com construções uniformes e ausência de mansões, templos monumentais, palácios e pirâmides. “As pirâmides que existiam em outras cidades mexicanas, como Tenochtitlan (atual Cidade do México), evidenciam a existência de chefes e subordinados, enquanto a presença de casas relativamente simples, totalmente diversas das construções pomposas recorrentes também no Peru e no Chile, indicam um sistema de governo diferenciado”, diz Ruth. Os professores Blanton e Fargher confirmaram que até 200 membros participavam do Senado e que a população pagava impostos.

O achado é relevante porque não há dados referentes à existência de repúblicas fora da Europa, sendo mais comum, até mesmo no continente, formações monárquicas. É somente quando as populações se fixam que os governos começam a ser organizados, porque surge a necessidade de controlar e dirigir a produção de alimentos, a religião, as relações internas e externas e a defesa do território. As repúblicas surgiram na Grécia por conta do desejo de a população participar do governo. No México, a hipótese é que surgiu como resposta às ameaças imperiais dos astecas. Por enquanto, as pesquisas estão apenas no começo.