Repressão aumenta, mas manifestantes seguem nas ruas de Myanmar

YANGON, 15 FEV (ANSA) – Apesar do aumento da violência e da repressão dos militares, milhares de pessoas foram às ruas de Myanmar para protestar contra o golpe de Estado ocorrido no dia 1º de fevereiro tanto neste fim de semana como nessa segunda-feira (15).   

Dezenas de pessoas foram presas ontem, incluindo cinco jornalistas que cobriam os atos, e houve um reforço de militares nas ruas das principais cidades para tentar coibir as manifestações. Além disso, a internet continua bloqueada na maior parte do tempo para que os moradores não sejam informados dos novos protestos.   

No entanto, os atos não arrefecem. Durante a noite, para tentar dispersar as pessoas, os militares jogaram bombas de gás lacrimogêneo e atiraram contra os manifestantes. Segundo um jornalista da agência AFP que está no país, não se sabe se os tiros eram de balas de borracha ou de munição letal.   

Os golpistas também ameaçaram que quem for preso por protestar do governo – seja nas ruas ou por “palavras escritas e cartazes” – poderá pegar até 20 anos de prisão.   

Além de exigirem a volta do processo democrático, os cidadãos estão pedindo pela libertação de sua líder “de facto”, Aung San Suu Kyi, do presidente do país, Win Myint, e dos demais políticos da oposição presos.   

Em nota divulgada à imprensa internacional, o advogado de Suu Kyi, Khin Maung Zaw, informou que o processo contra a líder acontecerá na próxima quarta-feira (17) durante uma videoconferência.   

Apesar da prisão dela e do presidente ter sido justificada por uma suposta fraude eleitoral, a Nobel da Paz de 1991 está sendo acusada de burlar uma regra de comércio pela importação de rádios de comunicação. Os aparelhos eram usados para ela se comunicar com os agentes que faziam sua segurança.   

No fim de semana, uma nota oficial assinada em nome dos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido voltou a exigir o fim da violência contra os manifestantes e a retomada da democracia.   

“Fazemos um apelo às forças de segurança para que se abstenham da violência contra os manifestantes, que protestam para o restabelecimento do seu governo legítimo”, diz o documento.   

Golpe militar – O golpe de estado dado pelos militares em 1º de fevereiro foi justificado como uma tentativa de evitar uma “fraude eleitoral” ocorrida nas eleições gerais de 8 de dezembro, apenas a segunda após a retomada da democracia.   

Naquele dia, os parlamentares eleitos deveriam ter tomado posse e, certamente, renomeariam o atual governo. Isso porque, o partido de Suu Kyi, o Liga Nacional para a Democracia (NLD), teve uma vitória avassaladora, com cerca de 70% dos votos.   

Com o temor de perder ainda mais sua influência, os militares optaram por dar o golpe. As Forças Armadas, por lei, têm direito a 1/4 das vagas no Parlamento, mas também apoiavam um dos partidos de oposição a líder do país, que teve um resultado pífio no pleito. Além disso, ainda eram obrigatoriamente indicados para três ministérios extremamente importantes: Defesa, Assuntos Internos e Relações Exteriores.   

Ao darem o golpe, os militares ainda decretaram um ano de emergência nacional.   

Myanmar passou 25 anos sem eleições livres e o primeiro pleito no país ocorreu em 2015. Naquele dia, o NLD saiu vitorioso e começou seu governo nacional. Suu Kyi não pode ser a presidente porque tem filhos com um homem estrangeiro, por isso, foi nomeada como conselheira de Estado. Mas, na prática, é quem governa Myanmar. (ANSA).