A resposta à pergunta que fiz ao secretário de Cultura, Alê Youssef, veio com uma dose maior de realismo mais precisamente às 23h30 de sábado, na Rua Barão de Limeira, quase chegando na Praça da República. Um afunilamento do fluxo de pessoas provocado pela nova posição do Palco Barão de Limeira estrangulou as vias para quem precisasse passar por ali e criou a ratoeira. Um grupo de ladrões ficava à espreita para simular tumulto e enfiar a mão no bolso alheio. E lá estava eu, 14 Viradas nas costas, o celular no bolso e uma carteira com raros R$ 140, habilitação, cartão de crédito, débito, crachá do jornal, cartão do plano de saúde e um santinho de Frei Galvão, meu padroeiro das causas perdidas e roubadas.

“Secretário, como fazer a Virada crescer com segurança?”, quis saber eu na coletiva de imprensa, estragando um pouco o clima da festa. Ele respondeu bonito. “Cidade segura é cidade cheia.” Cheia. Isso estava mesmo, cheia, a ponto de eu poder sentir o calor da respiração dos meus perseguidores no cangote. Uma senhora me empurrou, um jovem veio simulando desequilíbrio e outro invadiu meu bolso. Um truque perfeito, com precisão de ilusionista japonês, que acontece desde os primórdios da era cristã e que a polícia jamais soube desvendar.

Ao lado havia um posto da PM, e eu descobri que ali é o lugar das grandes histórias. Quero cobrir a próxima Virada de lá. Em 30 minutos, contei sete relatos, alguns regados a choro. Quando consegui me aproximar do sargento que ouvia delicadamente cada alma desolada, perguntei. “Isso é normal?” E ele: “Rapaz, não estamos dando conta.” Algo me diz que ele não estava sozinho.