O ano mais olímpico de todo o ciclo que antecede a 31ª edição dos Jogos, no Rio de Janeiro – sem contar, claro, 2016 –, é o de 2015. Para a grande maioria dos atletas, é a chance de dar um salto na carreira e entrar para o seletíssimo grupo da elite do esporte. Em 92 anos de participação do Brasil, apenas 1.800 pessoas atingiram tal status. Por isso, conquistar uma vaga e desembarcar na Vila Olímpica é, simbolicamente, uma medalha conquistada para muitos atletas. A largada em busca desse sonho se dará com mais afinco em meados do ano, com atletas correndo atrás de boas marcas em competições de nível mundial e continental, principalmente.

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O Pan-Americano de Toronto, no Canadá, marcado para acontecer entre 10 e 26 de julho, é o evento esportivo de maior visibilidade de 2015. Ao todo, 41 delegações vão brigar por medalhas. Muitos brasileiros, porém, devem participar de seletivas para os Jogos do Rio em torneios locais. A Associação Internacional de Federações de Atletismo deverá divulgar os prazos para a obtenção de índices olímpicos somente no segundo semestre – o atletismo é a modalidade que mais tem levado atletas brasileiros para os Jogos (entre 30 e 35 competidores). A partir de então, qualquer competição oficial vale como seletiva. “O Pan-Americano é importante, mas o Mundial de Pequim, que ocorre um mês depois, é a prévia do que esperar em termos de resultados na Olimpíada”, diz Benê Turco, assessor da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) prepara uma lista de competições oficiais de 2015 para orientar modalidades e competidores. Isso porque muito próximo ou juntamente com o Pan de Toronto estarão acontecendo outros torneios importantes, como o Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan, na Rússia, entre 17 de julho e 2 de agosto, e os Jogos Mundiais Militares, entre 29 de maio e 5 de junho, na Coreia do Sul. “Cada atleta, cada time olímpico está montando a sua estratégia e escolhendo em qual competição vai participar”, diz Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de esportes do COB. “O Pan é um evento de grande festa, mas não representa nada em termos de resultado em nível internacional”, diz a psicóloga Katia Rubio, membro da Academia Olímpica Brasileira. “Em modalidades individuais, os mundiais serão o grande termômetro para atletas que estão mirando 2016”, completa ela, que é orientadora de mestrado e doutorado da Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo.

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A delegação brasileira já conta com 320 atletas classificados para o Pan de Toronto e o COB estima que levará para o Canadá um total de 580. Eleitas as melhores velejadoras do mundo pela Federação Internacional de Vela e atuais campeãs mundiais, Martine Grael e Kahena Kunze devem competir no Pan. “O Torben (multimedalhista olímpico e pai de Martine) acha importante que elas tenham experiência de vila, estejam em uma competição com várias modalidades, para não correr o risco de se deslumbrarem na Olimpíada”, conta Freire, do COB. Em algumas modalidades, no entanto, é provável que grandes estrelas fiquem de fora, como na natação. “Acho muito difícil eles disputarem o Pan e o Mundial, na Rússia, na sequência”, diz o ex-nadador e medalhista olímpico Ricardo Prado, prata em 1984, e, hoje, presidente do Conselho de Esportes do Comitê Rio 2106.

No judô, outro esporte historicamente de destaque em Olimpíadas, o esquema de classificação se dará pelo desempenho no Circuito Mundial, que ocorre entre maio de 2015 e abril de 2016. O Brasil tem 14 vagas e somente o melhor colocado no ranking de cada categoria ao final do Circuito garante vaga para os Jogos do Rio. Aos 23 anos, a atual campeã mundial (na categoria até 78 kg) Mayra Aguiar, bronze nos Jogos de Londres, em 2012, é a maior esperança de medalha da modalidade. As seleções de futebol feminino, prata nos Jogos de 2004 e 2008, e a de handebol feminino, atual campeã do mundo, também irão disputar mundiais em 2015. No momento, o Brasil está garantido em 36 modalidades para os Jogos do Rio. Resta sacramentar a participação do atletismo, do basquete, do hóquei sobre a grama, da natação e do tênis. Ensaio para o que esperar na Olimpíada, 2015 irá dar a cara da delegação nacional que pretende ficar entre as dez primeiras no quadro geral de medalhas.

Fotos: Andrej Isakovic; Pedro Revillion; Mick Anderson, World Archery Federation/Divulgação