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QUEIROZ
Governador do DF discursa na abertura do evento:
mais investimentos e 50 mil novos empregos

A Copa do Mundo é apenas um gol a ser marcado em um jogo que já começou e que continuará depois que a bola parar de rolar. A meta de Brasília é aproveitar a visibilidade da maior competição esportiva do globo para se transformar definitivamente em um destino atraente de negócios, investimentos e grandes eventos. A estratégia para vencer esse desafio está definida e, a julgar pelo que se ouviu na quarta-feira 17, no teatro Brasil 21, durante o seminário “As Cidades da Copa”, governo e iniciativa privada estão entrosados. A preparação da capital brasileira para a Copa das Confederações de 2103 e o Mundial de 2014 foi o tema central do evento promovido por ISTOÉ – o primeiro de uma série com o objetivo de discutir, nas cidades-sede, o cenário e as perspectivas das capitais que vão hospedar o maior acontecimento futebolístico do mundo. O encontro reuniu empresários, políticos e a cúpula do governo do Distrito Federal. Durante quase quatro horas de debates, especialistas envolvidos nos preparativos contaram como estão caminhando as obras, mostrando como os obstáculos estão sendo vencidos. A convergência das ideias e dos projetos para o futuro deixou claro que a Copa é mais importante para Brasília do que se imaginava até agora.

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O legado da infraestrutura, que inclui grandes monumentos e projetos de mobilidade urbana, é considerado pelo governo do DF o pilar de um crescimento rápido e capaz de adequar a cidade ao tamanho que possui atualmente. “Será uma oportunidade de ouro para nos colocarmos em condições de igualdade com outras capitais do mundo,” definiu o governador Agnelo Queiroz, que fez a abertura do encontro. Para ele, entre as conquistas de Brasília ao sediar grandes eventos esportivos, estão as oportunidades de emprego – espera-se que sejam criadas pelo menos 50 mil vagas diretas – e de investimentos. “Vamos poder mostrar as virtudes da cidade e atrair visitantes e empresários. A Copa é nossa chance de chamar a atenção do mundo inteiro e disso depende a sobrevivência e o desenvolvimento da cidade no futuro”, resumiu. “Brasília, onde o espetáculo começa com o jogo inaugural da Copa das Confederações, é nossa primeira vitrine, uma cidade monumento que tem a chance de mostrar que, mais do que isso, é um polo vibrante, em franca expansão econômica e cultural”, ressaltou, em seu pronunciamento, o presidente executivo da Editora Três, Caco Alzugaray.

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ALZUGARAY
"Brasília tem a chance de mostrar ao mundo
que é um polo vibrante, em expansão"

Os debatedores deixaram claro que a maioria dos benefícios da Copa em Brasília será permanente e irá alavancar áreas estratégicas, como a construção civil, o turismo, serviços de hotelaria e o complexo de alimentos e bebidas. O maior protagonista do seminário foi o novo Estádio Nacional Mané Garrincha, um megaprojeto de arquitetura orçado em R$ 1,2 bilhão. A arena, ousada e inovadora, está no centro de toda a estratégia do governo para reformular a imagem da cidade, seja no âmbito econômico, seja no âmbito cultural. O secretário extraordinário para a Copa do Mundo, Claudio Monteiro, destacou o estádio como principal legado do evento e mostrou em sua apresentação como a cidade pode usar esse novo equipamento para alavancar o turismo nos próximos anos. “Estamos fazendo um templo das artes que vai permitir que a cidade aproveite a sua infraestrutura hoteleira, que fica ociosa nos fins de semana”, disse. Antes mesmo de sua inauguração, marcada para o próximo dia 18 de maio, a arena ganhou destaque internacional por seu projeto arquitetônico funcional e sustentável e, com isso, transformou-se rapidamente no símbolo da nova Brasília que o governo do DF pretende difundir ao mundo (leia reportagem na pág. 92). “Traremos investidores para conhecê-lo e, assim, eles conhecerão também a face dinâmica da economia do Distrito Federal”, afirmou Monteiro. Então, a bola passa para Gutemberg Uchoa, secretário de Desenvolvimento Econômico. “Estamos fazendo um amplo diagnóstico para avaliar os setores da economia com mais chances de crescimento. E as estruturas construídas especificamente para a competição funcionarão como obras geradoras para novos empreendimentos econômicos”, disse Uchoa. “A construção do estádio em Brasília representa uma quebra de paradigmas para a cidade e a chance de trazer à tona o potencial econômico de Brasília.”

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DEBATES
O seminário foi o primeiro de uma série que discutirá a
preparação das 12 cidades-sede do Mundial de 2014

Durante o seminário, o arquiteto responsável pelo projeto do Estádio Nacional, Eduardo de Castro Mello, explicou outros aspectos da obra que justificam a magnitude do investimento. Segundo ele, houve preocupação com medidas que reduzissem o impacto ambiental e os custos de manutenção da megaestrutura. A cobertura do estádio, por exemplo, vai atuar como um dos pontos de captação de água da chuva e poderá armazenar cerca de 10,51 milhões de litros de água que serão tratados e, depois, reutilizados nos banheiros, na irrigação e na limpeza do estádio. Além disso, o estádio poderá funcionar como uma usina solar de geração de energia, com a instalação de painéis fotovoltaicos, que captarão a luz do sol e a converterão em energia elétrica. A ideia é que o Mané Garrincha produza mais energia do que é capaz de consumir. “Observamos muitos estádios pelo mundo para conceber esse. Não repetimos alguns erros. O estádio de Johannesburgo, da África, por exemplo, ficou longe do público. Já o Ninho do Pássaro, construído por uma fortuna em Pequim, é pouco sustentável ambientalmente e virou um coletor da poluição que se acumula sobre as chapas de metal do teto”, explicou o arquiteto. O custo final da construção do Ninho do Pássaro foi de US$ 423 milhões. Praticamente o mesmo do Mané Garrincha.

Segundo dados apresentados por José Augusto Fernandes, diretor de Políticas e Estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 85% dos efeitos da Copa na capital serão positivos. Vários indicadores mostram como o impacto econômico do Mundial já está sendo percebido pela cidade, que possui a maior renda per capita do País e que vive um movimento intenso de abertura de novos negócios. “Para nós, a Copa já começou há dois anos”, afirma o superintentente do Sebrae-DF, Antonio Valdir de Oliveira Filho. E prova com números: em 2010, os consultores do órgão atenderam a 72 mil pedidos de orientação de pessoas interessadas em criar ou expandir pequenas empresas. “Em 2012, foram 176 mil orientações.” Na Federação do Comércio do DF (Fecomercio) as contas seguem na mesma direção. Segundo Adelmir Santana, presidente da entidade, o efeito Copa representa um crescimento de 4%, com a incorporação de R$ 5 bilhões ao mercado de consumo. Grande parte desse acréscimo vai para a estrutura de comércio e serviços do Plano Piloto, região central de Brasília. Mas, de acordo com Santana, as boas previsões de crescimento atingem também as regiões administrativas periféricas em torno de Brasília. Já o vice-presidente da Associação Brasileira dos Agentes de Viagem do Distrito Federal (Abav-DF), Carlos Alberto Vieira, ressaltou os investimentos em qualificação profissional, que já estão sendo feitos, como um legado duradouro do Mundial. “Os efeitos de treinamento de pessoal e estrutura de transporte ficarão e os turistas que vierem para cá depois da Copa continuarão se beneficiando”, disse.

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O primeiro impacto para os visitantes será o próprio aeroporto, que receberá, até a Copa, R$ 750 milhões em investimentos, segundo José Antunes Sobrinho, presidente do conselho de administração da Inframerica. Concessionária do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, a empresa iniciou uma série de intervenções no atual terminal, que ganhará estrutura de shopping center, terá o número de pontes de acesso dobrado e verá a capacidade de saltar de 16 milhões para 41 milhões de passageiros por ano. “Queremos trazer para a cidade o conceito de Aerotrópolis, que integrará espaços de lazer, gastronomia e hotelaria”, explicou Antunes no painel em que debateu os desafios da infraestrutura na cidade.

No mesmo painel, o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Luiz Carlos Botelho Ferreira, ressaltou que a complexidade de empreendimentos como o aeroporto e a nova arena deixará o legado da superação dos desafios tecnológicos para o setor de engenharia. Da mesma forma, a necessidade de levar as obras adiante pode ajudar a superar outro entrave histórico: o burocrático. De acordo com ele, leis obsoletas e falhas de órgãos de fiscalização e meio ambiente travam o desenvolvimento das obras e são responsáveis pelas alterações de cronograma. “Temos dois caminhos: o técnico e o burocrático. Junto com o processo técnico vem o freio de mão, que é a burocracia.” Ficou, no entanto, um consenso entre os participantes do seminário promovido por ISTOÉ: quando os capitães das seleções do Brasil e Japão iniciarem a disputa pela bola na partida de abertura da Copa das Confederações, no dia 15 de junho, estarão coroando uma fase em torno da qual há muita expectativa de crescimento. Pode ser a chance de Brasília romper com o rótulo de cidade criada para abrigar servidores públicos e iniciar uma caminhada em busca de sua vocação econômica.

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Fotos: Adriano Machado; Josiel Ferreira