Daniel Filho Cultura

Ele deu uma outra cara para a fase  de retomada do cinema brasileiro ao fazer de uma comédia, a ótima “Se Eu Fosse Você”, o maior sucesso de bilheteria de 2009 e agora volta a dirigir na Rede Globo

daniel-abre-2.jpg

Ele bateu o recorde de público e arrecadação no cinema com “Se Eu Fosse Você 2”, visto por mais de seis milhões de pessoas este ano, e pretende repetir a dose em 2010 com “Chico Xavier”, filme sobre a vida do mais famoso médium brasileiro. Em ambas as histórias, o sobrenatural é o tema central. O primeiro, estrelado por Tony Ramos e Gloria Pires, é uma comédia e brinca com a troca de papéis entre o homem e a mulher. Já o segundo, com o ator Ângelo Antônio como protagonista, contará a vida do ícone da religião espírita. Só mesmo um nome como o de Daniel Filho para encarar tamanha diversidade. Diretor das duas obras, aos 72 anos, ele empresta ao cinema a experiência certificada por novelas, séries e programa de sucesso na televisão brasileira e responsáveis pela marca de qualidade que a Rede Globo ostenta até hoje.

Na volta à tevê, o primeiro trabalho será “As Cariocas”, de Sérgio Porto

Daniel ficou 25 anos na emissora e saiu para renovar-se. Primeiro, ajudou a fundar a Globo Filmes e, depois, criou sua própria produtora, a Lereby, cuja caixa registradora não para de tilintar por conta, especialmente, das duas versões de “Se Eu Fosse Você”. O próximo filme engatilhado é “Roque Santeiro”, baseado na novela de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. No próximo ano, Daniel voltará à Globo para dirigir a série “As Cariocas”, de Sérgio Porto, e pretende retornar à direção de teatro com a peça “Entrevista”, provavelmente com José Wilker à frente do elenco. Sua agenda tem projetos amarrados até 2014, entre os quais um filme sobre o poeta Vinícius de Moraes. Por todo esse passivo, Daniel Filho é o Brasileiro do Ano da ISTOÉ na categoria Cultura.

daniel-02-ie-2091.jpgdaniel-03-ie-2091.jpgdaniel-04-ie-2091.jpg
GALÃ E AMANTE Daniel Filho e sua diversidade de ator: comédias hilárias e como conquistador

“Estou satisfeito. Eu sempre achei que o que valia da pessoa era a média do que ela conseguiu na vida. Minha média, acho, está bem favorável a uma pontuação alta”, afirma. E completa, constrangido: “São os números que falam, não eu. Fico até encabulado de falar isso.” Apesar de feliz, Daniel lamenta que os críticos ainda manifestem preconceito com a comédia. “Falam muito que meu cinema é fácil de ser feito. O público não, os críticos. Eles são bem severos comigo”, afirma. Segundo ele, poucos conseguem, ao longo de todos os seus filmes, contentar as duas faces, o público e a crítica. “Não sei fazer filme pensando na crítica. Eu dirijo um filme pensando em mim. O filme que eu gosto de fazer é esse e pronto.”

Aos 72 anos, feliz e namorando Olívia Byington, ele quer trabalhar sem stress
daniel-abre-diie-2091.jpg

João Carlos Daniel vem de uma família de gerações que se dedicaram à atividade circense. Ele nasceu no Rio de Janeiro, no dia 30 de setembro de 1937, filho de pai espanhol, Juan Daniel, e mãe argentina, María Irma López (conhecida como Mary Daniel). Aos seis anos de idade, ganhou sua primeira incumbência no circo: era o menino que ficava num cantinho recolhendo os tapetes usados em cena. Em pouco tempo foi promovido a fantasminha – entrava em cena escondido num caixote e dava um baita susto no palhaço. Como não existia televisão, seu sonho maior era o picadeiro. Na década de 60, entretanto, lá estava ele totalmente abduzido pela telinha. Primeiro, na TV Excelsior, depois Tupi, Globo e também uma rápida parceria com a Band. “Quando entrei para a TV Globo, eu era mais famoso do que ela, que se resumia a praticamente dois estúdios e só pegava no Rio.” É verdade: Daniel já tinha nome e rosto público devido ao seu trabalho como ator. Contracenou com Jece Valadão em dois clássicos da década de 60: “Os Cafajestes” e “Boca de Ouro”. Sempre esteve à frente das câmeras, mas logo os “inventores” da Globo, como Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o agregaram ao grupo que estava construindo o tal padrão de qualidade e Daniel passou a trabalhar também atrás das câmeras ao lado de diretores como Paulo Ubiratan e Roberto Talma.

“Não sei fazer filme pensando na crítica. Eu dirijo um filme pensando em mim.
O filme que eu gosto de fazer e pronto” Daniel Filho
daniel-08-ie-2091.jpgdaniel-09-ie-2091.jpg
FENÔMENOS Daniel espera que  o filme sobre Chico Xavier repita o sucesso de “Se Eu Fosse Você”

De ator, passou a produtor, diretor, supervisor e, finalmente, diretor artístico, um executivo com carta branca para fazer ou desfazer o que quisesse. Em 1991, depois de 25 anos na emissora, decidiu sair para arejar a cabeça e, antenado com o futuro, tentar viver de projetos terceirizados. Realizou, na Band, a série “Confissões de Adolescente”, e voltou à Globo, em 1996, como produtor de “A Vida Como Ela É” e “Sai de Baixo.” Dentre as novelas que têm suas digitais estão sucessos como “Dancin’Days”, “Pecado Capital” e “Irmãos Coragem”, as séries “Malu Mulher” e “Armação Ilimitada”, para citar poucos de uma lista quilométrica.

Apesar do sucesso na televisão, o cinema era uma grande paixão. Com a tranquilidade da carreira reconhecida, Daniel pôde escolher a hora de trocar de tela. E lá foi ele, construir uma nova lista de sucessos com filmes nos quais botou “a mão inteira”, como “A Dona da História” e “A Partilha”, que dirigiu, e outros em que pôs apenas “um dedo”, como “Carandiru” e “Cidade de Deus”, nos quais foi supervisor artístico. “Eu sabia que tinha aumentado meu campo de trabalho. A única coisa que pesava – mas que terminou sendo muito bom – era quebrar todo o vínculo com a televisão. Mas teve um lado positivo. Um distanciamento da televisão muito gostoso e muito carinhoso.”

Jovial, Daniel diz que só lembra que tem muita idade quando constata que é amigo do pai do governador do Rio, Sérgio Cabral, e que seu filho jogava futebol com o prefeito, Eduardo Paes. Morando provisoriamente num apart hotel, no Leblon, zona sul do Rio, ele se prepara para mudar para uma casa. A troca de endereço se deve à separação da atriz Márcia Couto, com quem viveu 23 anos. Ele já foi casado com as também atrizes Dorinha Duval, mãe de sua primogênita, Carla; Betty Faria, com quem teve um filho, João; e Regina Duarte, desta vez sem herdeiros. Tem três netos. Atualmente, está feliz com a atual condição de terceirizado da Rede Globo, que lhe permite fazer apenas o que quer, sem cobranças e sem stress. E se fosse chamado para dirigir uma novela hoje? “Eu acharia que essa pessoa está absolutamente louca”, responde. Em seguida, explica. “Não noto muito identidade nas novelas de hoje. É mais o resultado de um grupo de pessoas, de uma produção. Prefiro fazer outra coisa que possa chamar de minha.” Uma série, por exemplo. Daniel está empolgado com o projeto de “As Cariocas”: “A ideia é muito boa. Não fala de quem nasceu no Rio, e sim de quem vive na cidade e tem o espírito carioca. Pretendo falar disso através do foco que me é sempre caro: a mulher.”

Daniel constata que tem “um espaço de futuro à frente” e está mais interessado em viver o que está por vir. “Tenho saudade do sonho, da época em que a gente sonhava mais.” A única coisa que não passa pela sua cabeça é a ideia da morte. Seu pai faleceu aos 101 anos e a mãe tem 98. Portanto, ele tem razões para pensar no futuro. Vaidoso, não quer atravessar os anos fora de forma. Luta para manter a imagem de galã. Afinal, tem um grande motivo: sua nova namorada é a bela e talentosa cantora Olívia Byington.

Continue Lendo