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Muricy Ramalho poderia ter entrado para a história como um jogador frustrado. Aos 21 anos, no auge da forma e quase escalado para a Copa do Mundo de 1978, torceu o joelho e ficou parado por um ano. "Foi a minha maior tristeza no futebol", diz. Mas Ramalho soube se reinventar.

Hoje, o tricampeão brasileiro pelo São Paulo (2006, 2007 e 2008) e atual técnico do Palmeiras é cobiçado graças à sua competência e ao seu perfil de boleiro clássico – aquela mistura pragmática de carisma, paternalismo e sabedoria, tão respeitada por jogadores, dirigentes e torcidas. O paulistano de 53 anos recebeu ISTOÉ no centro de treinamento do Palmeiras. E enterrou sua fama de mal-humorado

ISTOÉ – Dá para ser ético no futebol?
Ramalho
– Quem é correto, sofre. Sinto isso na pele. Às vezes querem te derrubar, mas não me importo. O futebol é um grande negócio. E aí as pessoas dizem que eu não converso muito, não sou social… Não sou mesmo! Mas é claro que tem muita gente boa no futebol, que sofre muito com isso.

ISTOÉ – Como você analisa a CBF?
Ramalho
– O presidente Ricardo Teixeira dá as ordens e escolhe o treinador. E eu respeito isso. Se o técnico precisa fazer lobby para chegar lá, eu não sou esse cara. Se algum dia eu tiver o prazer de receber o convite de alguma seleção, vai ser só pelo meu trabalho.

ISTOÉ – Você torceu para o Rio de Janeiro na briga pela Olimpíada de 2016?
Ramalho –
Acompanhei, torci e achei muito legal. Só que o governo não deveria esperar por um grande evento para melhorar a vida das pessoas. Segurança, saúde e transporte são obrigações. Espero que os investimentos sejam privados para que a gente não pague essa conta. E que seja transparente, não aguentamos mais corrupção.

ISTOÉ – Em quem você votou na última eleição para presidente?
Ramalho
– Acho que votei no Lula, não pelo partido, e sim pela pessoa. Ele era uma esperança. Fiquei decepcionado com o PT. Quando eles chegaram fizeram o contrário do que diziam. Eles eram os únicos éticos e o resto não servia para nada. E a gente percebeu que não era bem assim.

ISTOÉ – Já tem candidato para 2010?
Ramalho
– As opções são boas, pessoas fortes e que sabem o que estão fazendo. A disputa vai ser parelha e isso é bom para o País. Claro que tem o apoio do Lula, que está fortíssimo, mas a Dilma (Rousseff) está no meio da tabela…

ISTOÉ – Por que se fala tão pouco sobre o uso de drogas que melhoram a performance esportiva no futebol brasileiro?
Ramalh
o – O americano faz qualquer coisa para ser o primeiro. No Brasil, o atleta usa droga por diversão. As duas coisas são condenáveis. Se algum baladeiro estiver prejudicando o meu time, sai na hora. Agora, não quero saber se ele usa brinco e calça rasgada ou se gosta de homem ou de mulher. Tudo bem, desde que cumpra seu dever.

ISTOÉ – E os técnicos, são baladeiros?
Ramalho
– Claro que sim. Tem treinador que faz muita coisa errada e os jogadores sabem disso. Se o técnico é um pouco chato e, dá um pulo, o atleta aproveita para pegar no pé.

ISTOÉ – Um jogador brasileiro pode assumir que é gay tranquilamente?
Ramalho –
Se o cara falar, está morto para o futebol. Ainda há muito preconceito. Acredito que o cara tem de ter liberdade para escolher do que gosta e o mais importante é que ele cumpra a sua obrigação. É triste ter de conviver com o preconceito contra os homossexuais e os pobres. Isso sem falar no racismo.

ISTOÉ – Como foi trabalhar com o Richarlyson, um atleta cuja sexualidade vive sendo questionada.
Ramalho –
Ele trabalha muito mais que qualquer outro jogador, é um puta cara. Eu não sei qual é a dele e nem quero saber. Não me interessa o que ele faz ou deixa de fazer. Só sei que é um grande caráter. Ele é homem pra caramba.

ISTOÉ – Como você lida com a pressão?
Ramalho
– Eu me dedico demais ao que faço. Não durmo, estudo demais os times. Às vezes, pego meus cachorros e minha família e vou para Ibiúna (interior de SP), onde faço um churrasco e dou comida para os passarinhos. Tenho quase certeza de que o Telê (Santana) ficou doente por causa do futebol. Ele vivia aquilo 24 horas por dia, acordava às seis da manhã para cuidar do campo. Eu não quero ficar doente. Sei que a minha carreira não vai tão longe.

"Não vou adoecer como o Telê. Minha carreira não vai tão longe"

ISTOÉ – Você sabe quando vai parar?
Ramalho
– Não sei ainda, mas vou tentar outra coisa dentro do futebol quando ficar um pouco mais pesado, talvez como diretor de base. Isso aqui é perigoso para quem quer estar sempre na ponta: tem de se estressar e ir dormir só às 5 da manhã.

ISTOÉ – O mau humor de Muricy Ramalho é um mito?
Ramalho
– Eu só sou muito sério no que faço. O problema é que me entrevistam no momento em que estou trabalhando duro. Não dá para dar risadinha.

Veja vídeos da entrevista com o técnico Muricy Ramalho

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IstoÉ entrevista Muricy Ramalho (Parte 01)

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IstoÉ entrevista Muricy Ramalho (Parte 02)

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IstoÉ entrevista Muricy Ramalho (Parte 03)

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IstoÉ entrevista Muricy Ramalho (Parte 04)