A principal marca do governo do PT é a política desenvolvimentista. Nos últimos oito anos, foram criadas as condições para que o consumo se acelerasse e as empresas incrementassem o nível de investimento. Iniciativas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) funcionaram como impulsionadoras de diversos setores – da construção civil à energia – e colocaram em circulação uma enxurrada de recursos. “A orientação do governo Lula foi muito mais pró-crescimento”, diz o professor Policarpo Lima, chefe do departamento de economia da Universidade Federal de Pernambuco. “Houve um crescimento regional mais bem distribuído.” O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que distribui recursos para todos os Estados, alcançou em 2010 seu nível mais alto de investimentos (R$ 15 bilhões, contra os R$ 2,5 bilhões aplicados em 2002). O Nordeste atingiu na era PT um desenvolvimento sem precedentes. Em 2010, os três Estados brasileiros que vão apresentar maior avanço do PIB serão Bahia, Ceará e Pernambuco, com indicadores muito próximos aos da China, o país que mais cresce no mundo. Uma das indutoras do avanço nordestino foi a Petrobras, que ganhou no governo Lula uma relevância que não tinha na gestão tucana. “No governo Lula, a indústria da construção naval foi implantada no Nordeste e isso tem a ver com a Petrobras, que está comprando os navios que são produzidos na região”, diz o professor Policarpo Lima.

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A Petrobras está por trás de uma das maiores fronteiras do desenvolvimento do País. Se o pré-sal confirmar o seu potencial, o Brasil vai ficar entre as seis nações que possuem as maiores reservas de petróleo, atrás apenas de Kuwait, Emirados Árabes, Irã, Iraque e Arábia Saudita. Lula deu sorte com o fato de as reservas serem descobertas em seu governo, mas afinal foi ele quem liberou os recursos que permitiram a pesquisa em novos campos de prospecção. “A Petrobras tem vários papéis importantes para a sociedade”, diz o sociólogo Carlos Roberto Winckler, da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Heuser, em Porto Alegre. “Os investimentos feitos pela empresa causam impacto, a começar pela ciência e tecnologia.” Lula foi perspicaz ao detectar a importância da petrolífera para a sua política desenvolvimentista – e, por isso, passou a usar a empresa como instrumento de marketing político. Funcionou. Em seu governo, o valor de mercado da Petrobras disparou e hoje ela está entre as três maiores corporações das Américas. No campo energético, o PSDB não teve a mesma performance. Os dois últimos anos do governo Fernando Henrique ficaram carimbados pela crise do apagão, que obrigou os brasileiros a racionar energia elétrica.

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EMPREGO E MOEDA FORTE
O PT criou 15 milhões de postos de trabalho
e o PSDB conseguiu estabilizar a moeda

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Nos últimos 16 anos de domínio de PSDB e PT, o Brasil se tornou um país muito melhor. As acertadas políticas econômicas dos dois períodos transformaram a vida de milhões de brasileiros. No campo social, provavelmente nenhuma outra nação passou por uma mudança tão veloz. No governo do PSDB, dois milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza. No governo petista, o contingente chegou a 23 milhões. Criado em 2003, o Bolsa Família teve um papel vital nesse processo. Ele atende 12,6 milhões de lares e, sozinho, foi responsável pela erradicação de quase 30% da extrema pobreza. “Um aspecto gritante, que salta aos olhos, é a ênfase do governo Lula na dimensão social”, diz o cientista político Fábio Wanderley, da Universidade Federal de Minas Gerais. “No governo Lula, houve uma transferência de renda muito grande, o que possibilitou a milhões de pessoas ascender socialmente”, afirma o sociólogo Winckler. Uma comparação simples dimensiona a transformação em curso no País. De 2003 a 2008, a renda dos 10% mais pobres aumentou 8% ao ano, enquanto os ganhos dos ricos cresceram 1,5%. Ou seja, na divisão da riqueza nacional, os pobres começaram enfim a reduzir a gigantesca desvantagem em relação aos que estão no topo da pirâmide. Na área social, o PSDB tem alguns trunfos para apresentar. O partido criou programas bem-sucedidos como o Bolsa Escola e o Cartão Alimentação, que em 2002 atenderam 3,6 milhões de famílias. O governo Fernando Henrique também foi marcado pela disseminação dos remédios genéricos, o que facilitou o acesso a medicamentos considerados de qualidade.

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Para muitos analistas, uma conquista que se deve aos dois governos é o inédito protagonismo internacional alcançado pelo Brasil. “Fernando Henrique começou a enfatizar a li derança brasileira na América do Sul e ambicionou a reforma na ONU para que o Brasil venha a assumir um assento permanente no Conselho de Segurança”, diz o cientista político David Fleischer. Segundo ele, porém, Lula deu mais ênfase a esse processo e abriu portas até então fechadas ao País. “Lula tem sido o que chamamos de presidente-chanceler, por ser realmente o promotor da política externa do País.” Algumas iniciativas marcantes alçaram o presidente à condição de líder internacional. Lula apostou suas fichas na estruturação do G-20 como um novo organismo de coordenação econômica mundial, algo que viria a se transformar em realidade. Sua visita ao Irã, com o objetivo de intermediar um acordo entre o país e as Nações Unidas para pavimentar o caminho da paz nuclear, foi vista inicialmente com ressalvas, mas acabaria por afirmar o Brasil como um grande ator em uma área em que nunca tinha tido participação. “Lula virou o segundo chefe de Estado brasileiro a visitar o Oriente Médio”, diz Fleischer. “O primeiro foi dom Pedro II, por volta de 1876.” Em oito anos de governo, entre 1995 e 2002, FHC fez 115 viagens internacionais. A marca foi batida com folga por Lula. Até outubro de 2010, ele tinha realizado 194 viagens para o Exterior.

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Qualquer que seja o resultado das eleições, o próximo presidente terá um desafio adicional. Fernando Henrique e Lula deixaram aos seus sucessores um indiscutível legado de estadistas e deram ao cargo de presidente a dimensão que ele merece. O novo presidente também vai largar tendo como base de comparação um passado marcado por incontáveis realizações. Por essas razões, será provavelmente mais complicado superá-las. Isso, porém, não tira do próximo líder o dever de fazer o País tão grande quanto ele deve ser – ou pelo menos tão grande quanto o PT e o PSDB o fizeram se transformar nos últimos 16 anos.

Colaboraram: Alan Rodrigues e Adriana Nicacio