Uma réplica da Fontana di Trevi, um dos monumentos mais conhecidos de Roma, na Itália, será inaugurada este mês, em Serra Negra, interior de São Paulo. A prefeitura aposta que a obra, bancada com recursos públicos, vai atrair turistas. Moradores da cidade gostaram da novidade, mas em redes sociais o monumento foi chamado de cafona.

A réplica tem 11 metros de altura, a partir do espelho d’água, e 20,7 metros de largura. A fonte será alimentada por nove bicos de água e a cascata terá 40 projetores de luz subaquática de led. O conjunto de esculturas é composto por 14 peças produzidas com moldes de silicone e gesso, com revestimento em fibra de vidro e acabamento refinado. As esculturas originais, na capital italiana, são de mármore branco.

A obra está sendo finalizada por uma empreiteira contratada pela prefeitura. Segundo o município, o recurso de R$ 1,6 milhão veio do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur), órgão do governo do Estado. A 140 km da capital, a cidade de 30 mil habitantes é uma das 11 estâncias hidrominerais de São Paulo, devido às propriedades terapêuticas de suas águas.

O prefeito Elmir Chedid (DEM) disse que, além de ser uma atração para os moradores locais, a obra vai movimentar a economia do município através do turismo. “Estamos também prestando homenagem à cultura e aos imigrantes italianos que tanto contribuíram para o desenvolvimento do Estado de São Paulo e da nossa região”, disse. O município obteve autorização da prefeitura de Roma para construir a réplica.

Elogiada por muitos moradores, a iniciativa não escapou das críticas. O jornalista e escritor Raul Juste Lores usou as redes sociais para chamar a obra de cafona. “Mesmo com o insaciável apetite pelo cafona, a obra choca”, tuitou. Ele questionou o investimento no novo atrativo quando o parque vizinho está fechado “porque tinha gente que o usava pra se drogar”.

O produtor cinematográfico Fernando Schultz usou a mesma rede social para ironizar a obra, dizendo que a prefeitura deve estar tentando aumentar a arrecadação por meio de moedinhas na fonte. Na Fontana di Trevi romana, é tradição lançar moedas na água e fazer pedidos. “O que mais entristece é a falta de originalidade, como o fato de que parece que toda cidade pequena quer um Cristo Redentor para chamar de seu”, escreveu.

A prefeitura informou que o parque citado por Lores é uma área verde municipal usada anteriormente como mirante. Do topo de uma escadaria podia-se observar a cidade. Como as árvores cresceram e encobriram a visão, o local foi fechado há alguns anos. Após a inauguração da fonte, a prefeitura vai iniciar os estudos para dar nova destinação à área, possivelmente integrando-a ao novo atrativo turístico.

Obra original é marco do barroco italiano e passou por restauração em 2015

A Fontana di Trevi original é considerada uma obra de arte do barroco italiano. Com 26 metros de altura por 20 de largura, o monumento está encostado na fachada do Palazzo Poli. A primeira fonte foi construída ao final de um aqueduto que abasteceu a cidade de Roma por mais de 400 anos. Artistas italianos como Gian Bernini, Nicola Savi, Giuseppe Pannini e Pietro Bacci contribuíram para que a fonte ganhasse a dimensão artística atual.

O monumento passou pela maior restauração de sua história entre 2014 e 2015. No ano seguinte, foram recolhidos um milhão e meio de euros em moedas lançadas nas águas – o recurso foi usado para projetos de beneficência. A Fontana di Trevi foi cenário de várias produções cinematográficas, sendo mais conhecida a cena do filme La Dolce Vita (1960), de Federico Fellini, na qual a atriz Anita Ekberg entra na água e convida o ator Marcello Mastroianni a fazer o mesmo.