CONTRACULTURA A divulgação de nossa identidade por todo o planeta: paradigmas rompidos (Crédito:Divulgação)

Transcender a funcionalidade de uma manufatura é o principal objetivo do designer de móveis Pedro Franco, paulista de 43 anos. E essa meta o artista alcança com uma simples equação: menos forma, menos função e mais emoção. Assim os seus produtos trazem alma, o que transforma todas as criações em objetos atemporais. Aclamado com prêmios internacionais, o designer fundou e dirige, desde 2006, “A Lot Of Brasil”, empresa moveleira que leva o bom nome do País para todo o planeta. O lançamento da atual coleção “Rendas” aconteceria em Milão, no mês de abril, mas a pandemia alterou os planos. As vendas já ocorrem e o evento será realizado no próximo ano.

A empreitada é fruto de uma grande provocação. Nas incursões em feiras internacionais, a ideia de uso da inteligência artificial para a produção de móveis, algo que está se disseminando, incomodou profundamente o designer. Faltava arte na justificativa de utilização de tal recurso, já que a proposição era de, simplesmente, criar mais objetos, talvez necessários, mas certamente descartáveis. A fugacidade é quase certeira quando não há sentimento na concepção dos móveis. Franco entendeu, então, a necessidade de intensificar aquilo que sempre foi a sua principal característica: criação antropológica. “A resposta para a tendência mecanizada é apresentar um produto local e artesanal. E, assim, me posiciono como designer de contracultura”, afirma ele.

Havia uma utopia nessa missão e um esforço de conciliação da produção artesanal com a produção industrial e a identidade local. “Entendo que o desafio foi vencido e agora tenho um manifesto artístico para apresentar”, diz Franco.

A elaboração de móveis estruturados com renda é absolutamente original. A ideia surgiu em uma viagem a Salvador, durante ato ecumênico realizado numa igreja católica.

A convergência de diversas manifestações religiosas, a miscigenação, a tolerância e a brasilidade emocionaram Franco. “Eu já colecionava renda havia três anos. A missa disparou o gatilho criativo”. Tecida por ingleses e franceses no século XV, a renda foi trazida ao Brasil no século XVIII e por aqui assumiu formatos diferenciados de Norte a Sul. Para estabelecer seu móvel como um objeto contracultural, um fator importante é a acessibilidade. O artesanato é a base, mas uma versão industrial era imprescindível para ganhar escala.

A produção manual acontece com a renda estruturada e banhada em cobre, já a manufaturada é a partir de uma peça cortada a laser. O desenho da renda industrializada é uma concepção totalmente autoral, com inspiração nas diversas rendas nacionais. Além de renda e cobre, são utilizados aço carbono e tecido natural para compor os 24 produtos dessa coleção. Não é a primeira vez que Franco inova. Em 2012, impressionou o mundo do design com a cadeira “Esqueleto”. Construída com sementes de frutas, é o maior sucesso da empresa com 8.000 peças vendidas por ano. A obra do artista pode ser comprada no Brasil, na Coréia do Sul, China, França, Itália, Inglaterra, Peru, EUA e Chile. São 43 lojas credenciadas no País e 23 no exterior. Destaque para a cidade de Milão, onde é feito intercâmbio com inúmeros artistas.

“Ser global é ser local”

Segundo Franco, as criações motivadas por uma história, como é o caso da coleção “Rendas”, acrescentam valor aos móveis. Ele busca também a sustentabilidade quando pensa numa cadeira que não está acomodada a uma moda industrial, mas integrada a um povo, a uma cultura. “Ser global é ser local”, afirma. Quanto mais referências de origem cultural são colocadas no produto, mais ele é apreciado mundialmente. O artista acredita que o design pode mudar o mundo e nos seus 20 anos de estrada já identifica a revisitação em sua obra. Frequentemente é convidado para dar palestras na Europa para falar sobre o conceito exportado pela “A Lot Of Brasil”. Sempre que há uma volta ao passado as obras icônicas surgem como manifesto de uma época. E a arte do jovem artista já garantiu esse espaço.

EMOÇÃO
Móveis não se resumem à funcionalidade: sentimento é fundamental (Crédito:Divulgação)