Rio – Durante a gravidez é muito comum que os olhares estejam direcionados para a mulher; em um processo criativo, no interior de seu corpo, ela gera a vida. No entanto, após o parto, esses olhares se dirigem imediatamente ao pequeno ao bebê. E a mulher que acaba de virar mãe tende a ficar apagada e desinvestida. Em seu mundo solitário, precisará enfrentar seus fantasmas, seus incômodos, dores, suas idealizações e frustrações. Precisará se entender com seu corpo, articular a vida de mãe, mulher e profissional. E pode se sentir fracassada diante de uma sociedade que aplaude o corpo enxuto e a vida aparentemente maravilhosa de mulheres que acabaram de parir e que dão conta de tudo, pelo menos é o que dizem. Os incômodos, as angústias não podem ser revelados; ficam abafados em segredo em nome da busca da maternidade idealizada.

A idealização da maternidade possui um aspecto que não abre espaço para sentir o que é real. Não existe super mulher e nem super mãe, e sim, uma pessoa, com seus medos e seus sentimentos. Existem renúncias, trocas, e o aprendizado diário da maternidade que se dará através da relação que se estabelecerá entre ela e seu bebê.

É preciso dar espaço para que essa mãe possa falar de suas inseguranças e suas angústias, sem dar palpites ou fazer interferências, é justamente assim, sendo escutada e compreendida, que ela conseguirá abrir lugar dentro dela própria para desabrochar seu jeito de lidar com a maternidade.

Como a maternidade tem muito de idealização, não só da própria maternidade, como também a idealização do bebê, é comum observar a mãe que se desdobra em busca da perfeição. Sem muitas vezes entender que cada uma terá sua própria experiência, e que, portanto, é singular. Ajudar a mãe a se tornar mais confortável e segura com a sua maternidade é o melhor que se pode fazer.

Guardar os sentimentos não faz com que eles desapareceram. Ter noção das próprias dificuldades e conversar sobre elas é mais do que meio caminho andado para buscar formas de administrar e resolver. A conversa é uma forma de compartilhar e de fazer circular novas idéias e perspectivas. Ter uma conversa franca com pessoas de sua confiança é bastante positivo ajuda a redimensionar o problema e se sentir mais confortável emocionalmente.

É comum as pessoas terem vergonha de reconhecer que tem sentimentos, sobretudo os que são considerados negativos e quando são sentimentos negativos sobre a maternidade, tendem a guardar esse segredo a sete chaves. E por esse motivo é importante dizer que todas as mães podem ter sentimentos bons e ruins, e que isso é normal.

É possível que uma pessoa passe por situações tão difíceis quanto impensáveis. E cada um pode reagir de forma diferente. Dependendo da intensidade do trauma algumas pessoas podem se fechar e guardar esse segredo/dor por muito tempo ou uma vida inteira; isso ocorre por não acreditar que alguém possa escutar, ou, por medo, insegurança ou até vergonha de ter passado tal situação ou ainda por receio do julgamento e opinião alheia. Falar sobre essa dor, pode ajudar a re-significar e apesar dela, experimentar a vida com mais alegria.

Renata Bento é psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e família. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais