Um remédio experimental para o câncer pode ajudar a reverter os efeitos de uma deficiência intelectual conhecida como Síndrome do X frágil, que afeta principalmente autistas, disseram pesquisadores americanos nesta quarta-feira.

O estudo, publicado no periódico científico Science Translational Medicine, foi realizado com ratos de laboratório, de modo que, por enquanto, não há previsão para a potencial aplicação em humanos, alertaram os autores.

“Estamos longe de encontrar a cura para o X frágil, mas esses resultados são promissores”, disse o autor principal do estudo, Xinyu Zhao, professor de neurociência na Universidade de Wisconsin-Madison.

Os resultados abrem caminho para pesquisas futuras sobre uma deficiência hereditária que não tem cura e que afeta cerca de um em cada 4.000 homens e uma em cada 8.000 mulheres.

Os portadores da Síndrome do X frágil apresentam uma série de problemas cognitivos e dificuldades de aprendizado, podem ter o rosto mais longo e as orelhas maiores que o normal, e cerca de 30% deles são autistas.

O remédio, conhecido como Nutlin-3, está na primeira fase de testes para o câncer de olho denominado retinoblastoma, e seu uso comercial ainda não foi aprovado.

O pesquisadores descobriram que, quando administrado em camundongos, o medicamento podia reverter os danos de uma mutação genética que causa a Síndrome do X frágil.

Essa mutação impede os ratos de produzir uma proteína conhecida como FMRP, cuja ausência altera a atividade sináptica e o desenvolvimento da memória e da aprendizagem. Assim, os camundongos não reconhecem, por exemplo, um brinquedo ou objeto que tenham visto recentemente.

Após receber o remédio por duas semanas, os ratos “recuperaram a capacidade de se lembrar do que tinham visto e cheirado na sua primeira visita à câmara de teste”, aponta o estudo.

Uma pequena quantidade – cerca de 10% da dose que tem sido usada nos testes com humanos – pareceu bloquear o último estágio da reação em cadeia acionada pela mutação no gene do FMRP.

“Há muitos obstáculos”, disse Zhao. “Ainda há muitas questões a serem respondidas, como qual é a frequência com que o tratamento seria necessário. Mesmo assim, conseguimos descobrir um pouco sobre o X frágil, e isso me deixa otimista”.

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