AMANTE CARA Domitila de Castro e o palacete com o qual o imperador a presenteou: finalmente as obras de restauração serão concluídas

Há objetos antigos que são somente poeira, outros são história. Quando a personalidade à qual eles pertenceram possui o destaque biográfico que tem a marquesa de Santos, tudo é relíquia porque tudo se cruza com o nascimento do Brasil como Nação — ou seja, com a proclamação de nossa independência em relação a Portugal, em 1822. Muitos desses objetos que foram da marquesa, chamada Domitila de Castro Canto e Melo, amante de dom Pedro I que se tornou o primeiro imperador do País, estão alocados na mansão, ou verdadeiro palácio, que ele mandou o seu arquiteto pessoal projetar para a amada no bairro carioca de São Cristóvão. É nessa casa neoclássica, e entre três mil e quinhentas peças, que a realeza ganha contornos concretos — e charmosos.

+ Pinacoteca inaugura exposição sobre personalidades negras ‘invisíveis’ na história do Brasil
+ Soldado encontra moeda cunhada há 1.800 anos com rosto de imperador
+ Paul Cézanne, o pai da arte moderna

Recentemente, a Justiça Federal deu ao estado do Rio de Janeiro o prazo de até dois anos para que as obras de restauração da casa sejam concluídas. A construção é de 1827, foi projetada por Jean Pierre Pézerat e acolhe raridades e mais raridades. Por ironia do destino, o luxuoso imóvel da Marquesa de Santos, a amante, é que preserva uma infinidade de porcelanas que a esposa de verdade, Amélia Augusta Eugênia Napoleona, primeira mulher de Pedro I (a segunda foi Maria Leopoldina), ganhou no dia das núpcias. Faz-se aqui, leitor, um parênteses: a mansão, que como já se disse servia de refúgio a Domitila e Pedro I, serviu também para acobertar outra aventura do imperador — a que ele manteve com a própria irmã de Domitila, a baronesa de Sorocaba. Fechados os parênteses, voltemos às relíquias.

RARIDADE Leque do século XVIII que pertenceu à marquesa: varetas de ouro e pérolas

Nas paredes estão obras de Debret e acessórios da atriz Henriqueta Brieba. Mais: há leques, mobiliário do príncipe de Joinveille, desenhos de Francisco Pedro do Amaral, gravuras de Pieter Gotfred Bertichen e do arquiteto Auguste Grandjean de Montigny. Entre os vestidos da marquesa, um chama atenção: exclusivo modelo tingido em perfeito degradê, absoluta raridade naqueles tempos. Presente do amante? Caprichosa exigência da marquesa após uma das inúmeras brigas? Não se sabe ao certo, mas o vestido é um tesouro, e mistérios como esse também compõem a nossa história. História que a casa da Marquesa guarda há quase dois séculos.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias