Relatório de CPI cita transações suspeitas de agência que avançou na CBF sob Ednaldo

Soraya Thronicke, relatora da CPI das Bets, sugeriu indiciamento de sócio da Brax, empresa que domina mercado de placas em estádios

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O relatório da CPI das Bets, assinado pela senadora Soraya Thronicke, do Podemos do Mato Grosso do Sul, citou transações milionárias suspeitas envolvendo a agência de marketing esportivo Brax Sports Assets, que tem entre seus sócios Bruno Viana Rodrigues. A relatora propôs o indiciamento de Rodrigues por supostos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e exploração ilegal de jogos de azar. A defesa negou irregularidades e criticou as conclusões de Soraya.

O relatório final da CPI das Bets deve ser votado na comissão nesta quinta-feira, 12.

Fundada em 2021, a Brax avançou como protagonista nos bastidores do futebol nacional nos últimos anos, quando Ednaldo Rodrigues assumiu a CBF. Em novembro de 2022, oito meses após Ednaldo ser eleito presidente da confederação, a empresa de Bruno Rodrigues fechou um contrato de R$ 130 milhões com a entidade para exploração dos direitos comerciais da Copa do Brasil até 2025.

Desde então, a agência também assinou com a CBF um contrato sobre direitos de transmissão do Brasileirão da Série B, negociou patrocínios da Supercopa do Brasil e fechou acordos com alguns dos maiores clubes da Série A para exploração de placas publicitárias em seus estádios. Estão na lista Flamengo, Corinthians, São Paulo, Santos, Atlético MG, Fluminense, Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Internacional, Grêmio e Bahia.

Relatório de CPI cita transações suspeitas de agência que avançou na CBF sob Ednaldo

As suspeitas do relatório de Soraya citam informações apresentadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre operações envolvendo a Brax. As transações incluem a Pay Brokers EFX Facilitadora de Pagamentos S.A, que atua junto a sites de apostas como Bet365, BETFAIR e outras operadoras com sede no exterior.

Conforme o Relatório de Inteligência Financeira, a Pay Brokers fez repasses à Brax de R$ 833,3 mil entre outubro de 2022 e fevereiro de 2023; R$ 900 mil entre setembro e outubro de 2023; e R$ 933 mil entre janeiro e abril de 2024. Também despertou suspeitas uma transferência de R$ 24 milhões da Brax à Pay Brokers entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, seguida do retorno de R$ 2,3 milhões, fracionados em dez transferências.

O relatório de Soraya Thronicke afirmou que a “complexidade e circularidade dessas transações sugerem a prática de ‘layering’, uma das fases típicas da lavagem de dinheiro”. “A operação de R$ 24 milhões seguida por retornos fracionados se aproxima de um padrão de ‘esquentamento’ de ativos, estratégia frequentemente utilizada para legitimar recursos de origem ilícita por meio de relações contratuais simuladas ou desproporcionais”, afirmou a relatora.

Em outro trecho do documento, a senadora citou uma parceria entre a Brax e a Betano, operadora de apostas, e afirmou que “a utilização de uma empresa formalmente registrada no setor esportivo para movimentar recursos vinculados a operadoras de apostas e a uma facilitadora investigada por lavagem de dinheiro e manipulação de partidas levanta sérios questionamentos sobre o real escopo das atividades desenvolvidas pela Brax”.

Bruno Rodrigues foi convocado para prestar depoimento à CPI em maio deste ano, mas alegou estar em viagem profissional à Europa e não deu as caras. A defesa dele diz que a convocação do empresário foi feita “sem qualquer justificativa plausível”, mas que Rodrigues se colocou à disposição para prestar esclarecimentos de outras formas.

A relatora recomendou o encaminhamento do relatório ao Ministério Público Federal para investigação.

Os advogados do empresário Bruno Rodrigues disseram à coluna que receberam “com surpresa e indignação” o relatório da senadora Soraya Thronicke e classificaram o pedido de indiciamento dele como “absurdo”, “sem qualquer razoabilidade ou fundamentação jurídica”.

“O Sr. Bruno Rodrigues integra uma empresa séria e respeitada, que opera de forma transparente e atenta a todas as exigências legais de conformidade e de governança. Infelizmente, o que se constata do documento apresentado pela relatora é apenas a demonstração de um profundo desconhecimento”.

Ainda conforme a defesa, “todas as transações com a PayBrokers mencionadas pelo relatório são lícitas e estão abarcadas pela atuação profissional da Brax”.

“Lamentamos e repudiamos essa exposição injusta e indevida de nosso representado e da empresa que integra, fruto de uma danosa espetacularização da investigação parlamentar, que marcou, em tantos momentos, os trabalhos da relatoria desta CPI”.