O relatório elaborado pela Polícia Federal, que deu embasamento para a Operação Tempus Veritatis, aponta que o ex-ministro da Defesa Braga Netto estimulou bolsonaristas a atacarem, em dezembro de 2022, o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército. Além disso, o documento mostra uma possível participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na trama golpista.

A corporação afirma que reuniu dados que “comprovam” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “analisou e alterou” uma suposta minuta de golpe.

O relatório, ao qual o jornal “O Globo” teve acesso, mostra a atuação de Braga Netto contra Tomás Paiva ao afirmar que o colega “nunca valeu nada” e ainda tentou vinculá-lo ao PT. O ex-ministro ainda teria orientado o militar Ailton Barros a disseminar uma mensagem repleta de ataques ao general.

O intuito dos ataques, segundo as investigações, seria o de constranger oficiais do alto escalão das Forças Armadas para embarcarem na empreitada para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além disso, o documento elaborado pela PF reuniu indícios de que Eduardo Pazuello foi um dos aliados do ex-presidente que defenderam a ruptura constitucional.

Um dos elementos citados pela corporação é um áudio gravado por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, no dia 8 de novembro de 2022, no qual relatou a um interlocutor que Bolsonaro estava recebendo visitas “no sentido de propor uma ruptura institucional” e “pressioná-lo a tomar medidas mais fortes para reverter o resultado das eleições”.

“O cenário apresentado por Mauro Cid ao general Freire Gomes, na data de 08 de novembro de 2022, já demonstra uma atuação do atual deputado federal, o general Eduardo Pazuello, no sentido de propor uma ruptura constitucional, com fundamento em uma interpretação anômala do art. 142 da Constituição Federal”, acrescenta a PF.

Ainda conforme a corporação, dados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) apontam que Pazuello esteve no Palácio da Alvorada no dia 7 de novembro de 2022 e passou quase 11 horas no local.

Segundo a delação premiada de Mauro Cid, ele afirmou que Pazuello apresentou a proposta a Bolsonaro, que “desconversou, nem quis saber”. Ainda de acordo com o ex-ajudante de ordens, o ex-ministro da Saúde “integraria o grupo de radicais que queriam reverter o resultado das eleições”.

Procurada pelo “O Globo”, a equipe de Braga Netto não respondeu. Já Eduardo Pazuello afirmou, por meio de assessoria, que não iria falar sobre o assunto. A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro negou que ele tenha participado da elaboração de qualquer decreto no intuito de alterar de maneira ilegal o Estado Democrático de Direito.