Relatório aponta possíveis crimes contra humanidade na Líbia

GENEBRA, 4 OUT (ANSA) – Um relatório independente encomendado pelas Nações Unidas (ONU) apontou que foram cometidos “prováveis crimes de guerra e contra a humanidade” na Líbia, país africano que é palco de tensões e divisões desde a queda do ditador Muammar Kadafi, em 2011.   

O documento foi divulgado nesta segunda-feira (4), em Genebra, e diz que as investigações mostraram que “todas as partes em conflito”, incluindo outros países, combatentes estrangeiros e mercenários, “violaram o direito internacional humanitário”.   

“Há motivos para acreditar que tenham sido cometidos crimes de guerra na Líbia e que as violências perpetradas nos cárceres e contra migrantes podem constituir crimes contra a humanidade”, afirma a missão conduzida pelo marroquino Mohamed Auajjar.   

A Líbia viveu anos de guerras de milícias após a derrubada de Kadafi na Primavera Árabe e até março passado estava dividida entre um governo sediado na capital Trípoli e um Parlamento com base em Tobruk.   

Após anos de negociações fracassadas para reunificar a Líbia, a situação se acalmou em março passado, quando Abdul Hamid Dbeibah assumiu um governo transitório com o objetivo de organizar eleições em 24 de dezembro. No entanto, em setembro, o Parlamento de Tobruk retirou seu apoio ao governo de Trípoli, mostrando que o país segue fraturado.   

A missão da ONU identificou indivíduos e grupos responsáveis por supostos crimes na Líbia a partir de 2016, mas o elenco de suspeitos será mantido sob sigilo, ao menos até que seja necessário seu compartilhamento com outros órgãos.   

Além de milícias locais, o conflito líbio teve a participação de militares da Turquia, que defende o governo de Trípoli, e mercenários russos, aliados do Parlamento de Tobruk.   

Refugiados – O relatório também apurou que migrantes, refugiados e solicitantes de refúgio foram vítimas de “abusos no mar, nos centros de detenção e nas mãos dos traficantes”, de acordo com Chaloka Beyani, integrante da missão.   

Segundo ele, foram cometidas violências em “larga escala” por parte de agentes do Estado e não-estatais, com um “alto nível de organização e o encorajamento” das autoridades, “o que sugere crimes contra a humanidade”.   

A crise na Líbia deixou um vácuo no litoral ocupado pelos coiotes que organizam as viagens em barcos superlotados com destino à Itália. Em 2017, no entanto, Roma passou a treinar, equipar e financiar a assim chamada Guarda Costeira do país africano, que desde então efetua operações de socorro marítimo.   

Agências humanitárias e ONGs, contudo, dizem que essa Guarda Costeira é formada pelas mesmas milícias que causaram os conflitos na Líbia e acusam a corporação de violar direitos de migrantes e refugiados. (ANSA).