As últimas notícias indicam que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu licença do cargo e já o entregou para Jair Bolsonaro. Indicam também que o presidente está satisfeito com a decisão, já que as denúncias que envolvem Ribeiro são escandalosas e podem prejudicar sua campanha presidencial. A situação ficou insustentável para o ministro depois que ele foi acusado de tráfico de influência e improbidade administrativa no MEC. Dois pastores, Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, eram os operadores do esquema, que envolvia o favorecimento de prefeitos na construção de escolas e creches em troca de retribuição em dinheiro vivo, barras de ouro ou em compras de bíblias editadas por eles. A própria bancada evangélica e pastores alinhados com o governo se revoltaram contra a situação, que mistura religião com corrupção, e passaram a pedir o afastamento de Ribeiro, investigado pela Polícia Federal.

É o caso do deputado Marco Feliciano (PL-SP), presidente da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento, ou de Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Para Feliciano, depois que o áudio em que o ministro diz que sua prioridade é atender a todos os amigos do pastor Gilmar vazou no jornal Folha de S.Paulo, a imagem de todos os evangélicos foi esculhambada. “Hoje peço, por favor, se licencie até o término das investigações, pois nós evangélicos estamos sangrando. Sendo provada a inocência, retorne ao cargo”, disse Feliciano, pelo Twitter. Malafaia, também pelas mídias sociais, foi ainda mais duro e disse que Ribeiro tem que ser dispensado sem volta. “Vergonha total! Ministro da Educação em foto com a esposa em bíblia de pastor lobista do MEC. Tem que ser demitido para nunca mais voltar”, afirmou.

Independente de sua saída, a situação criada por Ribeiro exige uma investigação aprofundada para revelar mais detalhes do esquema. As evidências contra ele são contundentes e mostram que funcionava no MEC um sistema de poder paralelo controlado pelos dois pastores para favorecer os prefeitos “amigos”. Outro problema é que o ministro, em vez de se dedicar aos problemas da educação, estava mais preocupado em fazer proselitismo religioso e buscar apoio para a instalação de igrejas pelo Brasil. Já Bolsonaro, que agora tenta se livrar de um embaraço e conter o desgaste político do escândalo, sabia de tudo. Gilmar e Arilton são seus amigos de fé e circulam assiduamente no Palácio do Planalto desde 2019. A demissão de Ribeiro só serve para colocar uma cortina de fumaça sobre uma operação corrupta gerada nas entranhas do governo, que tenta, de todas as formas, ofender o Estado laico.