03/11/2024 - 12:05
A visita dos reis da Espanha e do presidente do Governo, Pedro Sánchez, às regiões atingidas pelas enchentes de Valência terminou com insultos e lançamentos de lama que atingiram o rosto de Felipe VI e da rainha Letizia.
“Vão embora”, “não dormimos há seis dias”, gritava uma mulher em Paiporta, enquanto a multidão os chamava de “assassinos” e objetos eram lançados em uma cena nunca vista na Espanha.
Sánchez e o presidente regional valenciano, Carlos Mazón, saíram possivelmente escoltados pelos serviços de emergência, mas Felipe VI insistiu em falar com o povo, protegido por seus guarda-costas, mas acabou deixando o local ao lado da rainha.
O número de vítimas na Espanha subiu de 213 para 217 com o anúncio da descoberta de mais três corpos em Pedralba, Valência, e de uma idosa em Letur, na região vizinha de Castela-Mancha, cujo corpo foi arrastado pelas águas por 12 km. A estas se soma uma morte na Andaluzia, mas praticamente todos os óbitos – 213 – ocorreram em Valência.
Entre os mortos estão estrangeiros, dois deles cidadãos chineses, informou a embaixada da China na Espanha à agência oficial Xinhua.
Após os tumultos, a televisão estatal anunciou que a visita dos reis foi suspensa.
Trata-se, nas palavras de Sánchez, do “maior desastre natural da história recente da Espanha”.
O papa Francisco pediu neste domingo aos fiéis no Vaticano que “rezem por Valência e pelo povo espanhol que sofre muito nestes dias”.
Alfafar, Chiva, Utiel, Catarroja, Paiporta, Sedaví, Massassa e Aldaia, são alguns dos municípios valencianos até agora pouco conhecidos e que ficarão para sempre associados a esta catástrofe.
A costa valenciana está novamente em alerta laranja – o segundo mais elevado – devido às fortes chuvas, informou a Agência Meteorológica do Estado Espanhol (Aemet).
“Haverá temporais locais intensos e persistentes, inclusive nas áreas já afetadas pelas enchentes de 29 de outubro”, explicou Rubén del Campo, porta-voz da Aemet, em mensagem transmitida pelo canal Telegram da agência.
A agência decretou alerta vermelho – o mais elevado – mais ao sul, na região da Andaluzia, precisamente na província de Almería.
O Governo anunciou que um total de 7.500 soldados e quase 10.000 policiais e guardas civis participarão das tarefas de resgate, no maior destacamento de forças armadas já realizado na Espanha em tempos de paz.
A Polícia Nacional anunciou a prisão de mais 20 pessoas por saques, o que aumenta o total de detidos a cem desde a terça-feira.
As tempestades de terça-feira despejaram em poucas horas uma quantidade de água equivalente à que cai em um ano. As inundações destruíram pontes, varreram casas e arrastaram centenas de veículos, que agora dificultam o deslocamento dos serviços de emergência.
“Estamos limpando há três dias. Está tudo cheio de lama”, explicou à AFP Helena Danna Daniella, 39 anos, proprietária de um bar na cidade de Chiva.
“É de perder a cabeça, de sair de si”, explicou sobre seu estado de espírito.
Em frente ao estacionamento da praça da cidade de Sedaví, a agitação não para. Um caminhão dos bombeiros tenta bombear o máximo de água possível do subsolo onde se suspeita que possa haver vítimas.
“Temos dois estacionamentos municipais muito grandes, este é o maior e é onde sabemos que tem gente, mas não sabemos o que tem no outro”, disse Raúl Castro, chefe da brigada municipal à televisão estatal TVE.
Uma onda de solidariedade tomou conta da região, que recebeu milhares de voluntários neste dias. No entanto, diante da ameaça de novas chuvas, as autoridades pediram que não saíssem neste domingo e restringiram o acesso a 2.000 pessoas.
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