Reino Unido planeja reconhecer Estado palestino se Israel não aceitar cessar-fogo

Reino Unido planeja reconhecer Estado palestino se Israel não aceitar cessar-fogo

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse nesta terça-feira que o Reino Unido está preparado para reconhecer um Estado palestino em setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em resposta à crescente indignação do público com as imagens de crianças famintas em Gaza.

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Starmer falou um dia após conversas na Escócia com o presidente dos EUA, Donald Trump, que disse que “não se importaria” se o Reino Unido reconhecesse um Estado palestino, embora Washington — o aliado mais próximo de Israel — tenha se recusado a fazê-lo há muito tempo.

Nesta terça-feira, Trump disse que ele e Starmer não discutiram o plano do Reino Unido de reconhecer um Estado palestino em setembro. “Nunca discutimos isso”, disse Trump a repórteres a bordo do Air Force One.

O Reino Unido, se agir, se tornaria a segunda potência ocidental no Conselho de Segurança da ONU a fazê-lo, depois da França na semana passada, refletindo o isolamento cada vez maior de Israel em relação à sua conduta na guerra contra o Hamas em Gaza, onde um desastre humanitário se instalou e o número de mortos palestinos subiu para mais de 60.000.

Starmer disse que o Reino Unido tomaria a iniciativa a menos que Israel tomasse medidas substanciais para permitir a entrada de mais ajuda em Gaza, deixasse claro que não haverá anexação da Cisjordânia e se comprometesse com um processo de paz de longo prazo que proporcionasse uma “solução de dois Estados” — um Estado palestino coexistindo em paz ao lado de Israel.

“O povo palestino tem passado por um sofrimento terrível”, disse Starmer aos repórteres. “Agora, em Gaza, devido a uma falha catastrófica na ajuda, vemos bebês famintos, crianças fracas demais para ficar de pé, imagens que ficarão conosco por toda a vida. O sofrimento precisa acabar.”

Starmer fez uma ligação telefônica com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, antes de fazer seu anúncio, disse uma fonte que pediu para não ser identificada.

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores de Israel disse em um post no X que a medida do Reino Unido constitui uma “recompensa para o Hamas” e prejudicaria os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

A visão de crianças de Gaza emaciadas chocou o mundo nos últimos dias. Mais cedo, nesta terça-feira, um monitor de fome alertou que o pior cenário de fome estava se desenrolando em Gaza e que era necessária uma ação imediata para evitar a morte generalizada.

Israel negou que esteja adotando uma política de fome. O ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, disse nesta terça-feira que a situação em Gaza era “difícil”, mas que havia mentiras circulando sobre a fome no local.

Com a intensificação das críticas internacionais, Israel anunciou medidas no fim de semana para facilitar o acesso à ajuda. Mas o Programa Mundial de Alimentos da ONU disse que não estava obtendo as permissões necessárias para fornecer ajuda suficiente.

Pressão partidária

A decisão de Starmer marca uma impressionante reversão na política depois que, na semana passada, ele decepcionou muitos em seu partido ao rejeitar os pedidos de reconhecimento de um Estado palestino, dizendo que o momento deve ser adequado como parte de um processo de paz mais amplo.

Nos últimos dias, Starmer tem se manifestado cada vez mais sobre a crise em Gaza, dizendo esta semana que as pessoas de lá enfrentavam uma “catástrofe absoluta” e que o público britânico estava “revoltado” com as cenas de fome e desespero em massa.

Starmer disse que, antes de tomar uma decisão final, seu governo faria uma avaliação em setembro sobre “até que ponto as partes cumpriram essas etapas”, mas que ninguém teria poder de veto sobre a decisão.

Ele falou após convocar seu gabinete durante as férias de verão nesta terça-feira para discutir uma nova proposta de plano de paz que está sendo elaborada com outros líderes europeus e como fornecer mais ajuda humanitária para os 2,2 milhões de habitantes de Gaza.

Sucessivos governos britânicos têm afirmado que reconhecerão formalmente um Estado palestino quando for o momento certo, sem nunca estabelecer um cronograma ou especificar as condições necessárias.

Alguns parlamentares do Partido Trabalhista, que governa o Reino Unido, disseram acreditar que Starmer relutou em reconhecer formalmente um Estado palestino porque isso significaria se distanciar da posição de seu aliado mais próximo, os Estados Unidos.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chamou o anúncio da França na semana passada, reconhecendo um Estado palestino, de “decisão imprudente”.

A China e a Rússia são as únicas outras potências mundiais que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU a reconhecer um Estado palestino.

Mudanças de posição

A questão do reconhecimento de um Estado palestino — visto como uma poderosa alavanca diplomática para pressionar Israel — veio à tona depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, disse na quinta-feira que a França reconheceria a Palestina como um Estado nos territórios que Israel capturou na guerra de 1967 no Oriente Médio.

Israel e os Estados Unidos, seu firme apoiador, criticaram a medida da França, classificando-a como uma recompensa para os militantes palestinos do Hamas que comandavam Gaza e cujo ataque a Israel em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra atual.

No início da guerra de Gaza, em outubro de 2023, quando Starmer era o líder da oposição, ele apoiava totalmente o direito de Israel de se defender. Mas sua postura mudou ao longo dos anos para uma abordagem mais rígida em relação a Israel, especialmente desde sua eleição como primeiro-ministro há pouco mais de um ano.

Seu governo abandonou o desafio do governo anterior em relação aos mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional para Netanyahu e suspendeu algumas vendas de armas para Israel.

No mês passado, o Reino Unido impôs sanções a dois ministros israelenses de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, acusando-os de incitar repetidamente a violência contra os palestinos.