O governo britânico apresentou, nesta quinta-feira (17), orçamentos marcados pela austeridade, com mais impostos e menos gastos públicos para poupar 55 bilhões de libras (65 bilhões de dólares), num contexto de crise do custo de vida e recessão confirmada.

“Nossas prioridades são estabilidade, crescimento e serviços públicos”, afirmou o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, ao apresentar seu “orçamento de outono” ao Parlamento.

“Somos honestos nos desafios que enfrentamos e justos nas nossas soluções”, assegurou, ao impor o regresso da austeridade a um país de 67 milhões de habitantes, a sexta maior economia do planeta, mergulhado em crise.

Isso faz parte de uma tendência global impulsionada nos últimos anos pela pandemia de covid-19 e pela invasão russa da Ucrânia, que prejudicaram o crescimento e dispararam os preços da energia, defendeu Hunt.

Ele evitou, porém, mencionar as consequências do Brexit, em vigor desde o início de 2020 e que, segundo funcionários do Banco da Inglaterra, prejudicam o comércio externo britânico e dificultam a contratação de uma mão de obra muito necessária.

O ministro confirmou que, segundo dados do Escritório de Responsabilidade Orçamentária (OBR), o Reino Unido já entrou em recessão e seu PIB deve cair 1,4% em 2023. Segundo o Banco da Inglaterra, essa recessão pode durar até meados de 2024 e ser a mais longa da história britânica.

Entre os aumentos de impostos anunciados, Londres aumentará o imposto sobre os lucros excepcionais das empresas petrolíferas dos atuais 25% para 35% – impulsionados pela disparada dos preços no contexto da guerra na Ucrânia – e o estenderá por três anos até 2028.

Hunt também anunciou “um novo imposto temporário de 45% sobre os produtores de eletricidade”, incluindo as renováveis, que se beneficiam do aumento das tarifas.

– “Dar ao mundo confiança” –

O novo ministro das Finanças procura, com estas medidas, cumprir a sua delicada missão de tranquilizar os mercados sobre a confiabilidade do Reino Unido, após o caos causado pelas políticas econômicas ultraliberais anunciadas em setembro pelo governo da efêmera primeira-ministra conservadora Liz Truss.

Ela apresentou um plano para “impulsionar o crescimento” que combinava grandes subsídios à energia com grandes cortes de impostos, sem nenhum financiamento além de aumentar a já grande dívida pública do Reino Unido.

Num contexto de inflação muito alta, isto causou mal-estar nos mercados financeiros, a libra despencou para mínimos históricos e os juros da dívida pública dispararam, arrastando consigo o crédito a empresas e famílias.

O também conservador Rishi Sunak, nomeado há menos de um mês para substituir Truss, prometeu corrigir os “erros” de sua antecessora.

Com essa missão, Hunt declarou-se determinado a “dar ao mundo confiança em nossa capacidade de pagar nossas dívidas” e anunciou novas regras para controlar a dívida pública.

O Reino Unido assiste, assim, o retorno de políticas de austeridade comparáveis às adotadas na crise bancária de 2008, cujas consequências ainda são sentidas, sobretudo na saúde pública.

Hunt listou entre suas prioridades “proteger os mais vulneráveis” e “evitar aumentos de impostos que prejudiquem o crescimento”.

O Executivo atualizará, desse modo, as aposentadorias e empréstimos sociais em linha com a inflação.

Também dedicará mais recursos à saúde pública, ainda sobrecarregada por listas de espera recordes desde o início da pandemia, em março de 2020.

Em contrapartida, permitirá que as administrações locais aumentem os impostos municipais para financiar a assistência social e congelará alguns limiares fiscais, especialmente sobre a renda.

Isso fará com que mais famílias paguem impostos, ao passar para uma faixa mais alta graças aos seus aumentos salariais, embora sejam inferiores à inflação galopante de 11,1% anual em outubro, perdendo poder de compra em termos reais.

Prometendo “pedir mais de quem tem mais”, Hunt especificou que a faixa máxima de imposto de renda de 45% passará a ser aplicada a partir de 125.000 libras por ano, em vez das atuais 150.000.