O Reino Unido saberá em 23 de julho qual dos dois candidatos conservadores será seu próximo primeiro-ministro e se, como tudo parece indicar, for Boris Johnson, como a União Europeia vai se preparar para uma negociação complicada do Brexit.

O Partido Conservador detalhou nesta terça-feira o calendário para a eleição de seu novo líder, que substituirá a primeira-ministra Theresa May em Downing Street.

O polêmico ex-chanceler Boris Johnson, 55 anos e popularmente conhecido como BoJo, é o grande favorito nesta disputa com o atual ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, 52 anos de idade.

Os 160.000 membros do partido escolherão entre eles em primárias que encerrarão em 22 de julho.

O anúncio do vencedor será feito no dia seguinte. Ainda não se sabe quando a transferência de poder será feita, um procedimento que requer uma visita à rainha Elizabeth II.

Eleita em julho de 2016 após a renúncia do ex-primeiro-ministro conservador, David Cameron – como resultado da vitória do Brexit no referendo sobre a UE – May foi forçada a renunciar em 7 de junho devido à repetida recusa do Parlamento em aprovar o acordo de divórcio negociado com Bruxelas.

Esse texto está “basicamente morto” depois de ter sido rejeitado três vezes pelos deputados, disse Johnson nesta terça-feira durante um programa na rádio LBC, onde ele reiterou que o país deve “preparar” um Brexit sem acordo.

– “Acordo com ambas as partes” –

Ao destacar que, no caso de um Brexit sem acordo, o Reino Unido não adotará tarifas contra os produtos europeus, Johnson opinou que a UE deveria fazer o mesmo com as importações britânicas.

“Seria muito estranho que a UE decidisse por conta própria, já que nós não adotaríamos tarifas, impor taxas aos produtos procedentes do Reino Unido”, declarou ao canal LBC.

“Não seria benéfico para seus negócios e muito menos para seus consumidores”, completou.

“Seria um retorno ao sistema continental de Napoleão”, criticou, ao mencionar o general francês do século XIX que durante as Guerras Napoleônicas tentou isolar o Reino Unido com o denominado “bloqueio continental”.

Durante o programa, o ex-chanceler e ex-prefeito de Londres detalhou sua estratégia para o Brexit caso os membros do Partido Conservador o escolham com líder e, por consequência, primeiro-ministro.

Ele afirmou que deseja “pegar as partes úteis” do acordo negociado por May e descartar a controversa “salvaguarda irlandesa”, um mecanismo de último recurso idealizado para evitar uma nova fronteira na ilha da Irlanda, medida que provoca uma forte rejeição dos defensores mais ferrenhos do Brexit.

Johnson explicou que pretende reter o pagamento da conta de 39 bilhões de libras à UE enquanto as duas partes negociam um futuro grande acordo de livre comércio.

A UE repetiu diversas vezes que não está disposta a renegociar o acordo de divórcio e muito menos a eliminar a salvaguarda irlandesa, fundamental para preservar o Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa de 1998 que encerrou quatro décadas de conflito violento entre nacionalistas católicos e unionistas protestantes na Irlanda do Norte.

“Tem que acontecer um acordo entre as partes”, reconheceu Johnson, antes de pedir a manutenção de uma atitude “positiva”.