O governo britânico anunciou nesta quarta-feira (6) uma série de reformas para que não se repitam os erros cometidos na tragédia de Hillsborough, ocorrida Sheffield, em 1989.

Em 15 de abril daquele ano, no estádio de Hillsborough, do Sheffield Wednesday, 97 pessoas morreram esmagadas pela multidão durante uma semifinal da Copa da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forest.

As famílias dos mortos e feridos sofreram uma “dupla injustiça”, concluiu um relatório do Ministério do Interior do Reino Unido publicado nesta quarta-feira. As autoridades cometeram erros na proteção das vítimas e colocaram em questão sua responsabilidade na catástrofe.

Este relatório é a resposta do governo às 25 recomendações de um estudo anterior, publicado em 2017.

“As famílias de Hillsborough sofreram múltiplas injustiças e, mais de 34 anos depois, não há desculpas suficientes para o que sofreram”, declarou em um comunicado o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak.

“Quero reiterar essas desculpas hoje e agradecer às famílias de Hillsborough por sua tenacidade, paciência e coragem”, acrescentou.

Um novo órgão apoiará as famílias das vítimas de grandes catástrofes, para ajudá-las perante o sistema judicial e as instituições.

O governo também assinou a “Carta de Hillsborough”, na qual se compromete com “uma cultura de honestidade e transparência no serviço público”.

Em especial, o texto introduz o dever da sinceridade por parte das forças de ordem.

“A desonestidade policial, a falta de responsabilização e a obstrução de justiça prevaleceram”, disse o ministro do Interior britânico, James Cleverly.

“Ao assinar a Carta de Hillsborough e introduzir o dever de franqueza no policiamento, o governo protegerá outros de experiências semelhantes no futuro”, acrescentou Cleverly.

– Reação dos familiares –

Autor do relatório de 2017, o ex-bispo James Jones disse que a resposta do governo “é aquém das expectativas das famílias da tragédia de Hillsborough”, mas foi “séria e substancial”.

Na opinião de Margaret Aspinall, que perdeu o filho de 18 anos na tragédia, esta resposta “não vai longe o suficiente”.

Esta mãe tinha pedido ao governo para adotar uma “Lei de Hillsborough”, que criaria um dever legal de franqueza para todos os funcionários públicos e proporcionaria maior equidade na defesa das vítimas de catástrofes.

No último mês de janeiro, a polícia britânica se desculpou e anunciou reformas que incluíam medidas para evitar a perda ou a destruição de provas.

Em 2016, a justiça do Reino Unido culpou a polícia e os oficiais encarregados da segurança do estádio, avaliando que houve falhas na organização e denunciando em particular um erro na tomada de decisões, a fatídica abertura de um portão do estádio que causou a correria em Hillsborough.

Mas desde aquele relatório, nenhuma condenação penal foi proclamada.

A correria provocou inicialmente a morte de 94 pessoas, esmagadas contra as grades de metal que antigamente separavam as arquibancadas do campo. Posteriormente, outras duas vítimas morreram em decorrência dos ferimentos.

Em 2021, 32 anos depois da tragédia, morreu a 97ª vítima de Hillsborough, também como consequência de ferimentos.

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