O governo britânico apresentou nesta sexta-feira (23) ao Parlamento um coquetel de medidas para estimular a economia e atenuar a inflação, que inclui o congelamento das contas de energia, uma redução dos impostos e a desregulamentação do setor bancário.

O pacote da primeira-ministra conservadora Liz Truss pode ter efeitos colaterais graves para as finanças públicas de um Reino Unido à beira da recessão e com uma inflação próxima de 10%, o maior nível em 40 anos.

Mas o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, espera um alívio às economias das famílias e das empresas e “inverter o círculo vicioso da estagnação”.

“Durante a pior crise energética em gerações, este governo está ao lado da população”, afirmou Kwarteng no Parlamento.

A principal medida do “mini-orçamento”, como ele definiu, será o congelamento das contas de energia durante dois anos, com uma economia de quase 1.000 libras (1.115 dólares) por ano para uma residência média.

No caso das empresas, o governo financiará quase metade das contas durante seis meses.

Os preços do gás e da energia elétrica dispararam desde o início da guerra en Ucrânia, uma consequência das limitações no abastecimento de combustíveis procedentes da Rússia.

– 67 bilhões de dólares –

Kwarteng afirmou nesta sexta-feira que custará 60 bilhões de libras (67 bilhões de dólares) para o orçamento governamental o período de seis meses de ajudas energéticas anunciadas para os cidadãos e as empresas.

O ministro também anunciou o fim de um limite aos bônus para os executivos de bancos, de 200% do salário anual até o momento, e a redução do percentual máximo do imposto sobre os lucros, de 45% para 40%.

“Precisamos que os bancos internacionais criem empregos aqui (…) e paguem impostos aqui em Londres, e não em Paris, Frankfurt ou Nova York”, afirmou, ao encerrar uma regra herdada da União europeia.

No momento em que o mercado de trabalho britânico enfrenta uma escassez de mão de obra, o acesso à renda universal mínima (“universal credit”) será acompanhado de obrigações para algumas pessoas que trabalham menos de 15 horas por semana.

As medidas podem incluir a “candidatura a um emprego, participar em entrevistas de recrutamento”, segundo o ministério das Finanças, que deseja incentivar as pessoas com mais de 50 anos a retornar ao mercado de trabalho, do qual saíram em grande medida desde a pandemia, em particular em consequência das doenças prolongadas.

– “Para os mais ricos” –

Kwasi Kwarteng também advertiu que o direito à greve terá um regulamentação mais rígida e limitada aos casos em que as negociações salariais fracassaram, depois que o governo anterior autorizou a contratação de funcionários temporários para atenuar seu impacto.

O custo total do pacote de medidas não foi divulgado, mas economistas calculam mais de 100 bilhões de libras. O banco Barclays chegou a mencionar 200 bilhões de libras.

A própria Liz Truss reconheceu que a política de seu governo favorecerá sobretudo os mais ricos.

“Em vez de defender os trabalhadores, os conservadores protegem os lucros dos gigantes da energia, que foram beneficiados nos últimos meses com o aumento dos preços”, acusou a secretária do Partido Trabalhista para as Finanças, Rachel Reeves.

Reeves afirmou que as medidas para o setor de energia anuncias pelos conservadores serão financiadas com endividamento público e, portanto, pelos contribuintes.

A ONG de luta contra a pobreza Oxfam destacou uma “política que é todo lucro para os mais ricos”.

Após os anúncios, os investidores reagiram com vendas de títulos da dívida britânica, cuja taxa de rendimento a 10 anos operava em alta de 3,84%, o maior nível desde 2011

A libra era negociada em sua menor cotação desde 1985, em queda de 2%, próxima de 1,10 por dólar.