Divulgação

Junho de 1992, Rio de Janeiro. Chegava ao fim a Cúpula da Terra (Eco-92), a maior conferência realizada na história sobre o meio ambiente. Para a foto oficial do evento, a organização reuniu 170 chefes de Estado e uma personalidade que não liderava nenhuma nação, nem sequer tinha cargo público: o francês Jacques Cousteau. Cientista, explorador, cineasta, inventor, oceanógrafo – é difícil definir em qual dessas atividades esse pioneiro do ambientalismo mundial foi mais importante. Há somente uma única unanimidade sobre a sua trajetória: pouca gente no século 20 provocou um impacto tão grande e em tantas áreas diferentes.

 

 

O PODER DAS IMAGENS Os mergulhadores pioneiros no lendário barco Calypso: resgates bancaram a produção de filmes premiados e séries para a TV (Crédito:Divulgação)

De forma resumida, pode-se dizer que ele foi o rei dos oceanos. Disponível no streaming Disney+, o documentário Becoming Cousteau, produzido pela National Geographic e dirigido por Liz Garbus, retrata essa vida extraordinária. “Todo explorador é movido pela curiosidade, por uma mente insaciável e pela felicidade de adquirir novos conhecimentos”, pregava Cousteau, que seguiu essa filosofia durante toda a sua vida. Começou a carreira nas forças armadas, como piloto de avião. Um acidente automobilístico, porém, o levou à natação náutica, terapia de recuperação que realizou no litoral de Toulon, na costa sul da França. Foi amor à primeira braçada: descobriu o mergulho, se apaixonou pelo fundo do mar e pediu transferência para a Marinha. Tornou-se inventor por necessidade: como não queria ficar limitado pelos equipamentos dos antigos escafandros, cuja respiração dependia de mangueiras, desenvolveu cilindros de oxigênio independentes controlados por uma válvula de automóvel. Com a liberdade, passou a explorar distâncias cada vez maiores debaixo d’água.

Divulgação

Foi nessa época que conheceu Simone Melchior, sua mulher e braço direito. Tratou-se de um encontro de conveniências: Cousteau queria filhos, ela queria uma vida de aventuras. Filha de almirante e com “água marinha correndo nas veias”, como ela gostava de dizer, causou nele uma boa impressão: “Simone cheirava a mar”, elogiou. Com o fim da Segunda Guerra, ele passou a realizar resgates aquáticos de tesouros, naufrágios e de corpos dos combatentes. A lucrativa atividade bancou a compra e reforma do lendário Calypso, embarcação que o acompanhou pela vida inteira e o transportou para todos os oceanos do planeta. A profissionalização também permitiu o investimento em outra de suas paixões: o cinema. Adquiriu equipamentos sofisticados e divulgou imagens inéditas do seu universo subaquático para todo o mundo. Um dos cinegrafistas de sua equipe era Louis Malle, jovem que se tornaria mais tarde um dos expoentes da Nouvelle Vague. O filme de estreia, O Mundo do Silêncio, foi agraciado com a Palma de Ouro em Cannes – a primeira vez em que o prêmio foi concedido a um documentário. O francês logo percebeu o poder de suas cenas: investiu em câmeras e submarinos e, com sequências cada vez mais incríveis, fechou acordos para filmes e programas de TV.

Esse conteúdo foi exibido na TV brasileira nos anos 1970 e 1980, cativando uma geração de jovens. Sacha Novikov, mergulhador de Ilhabela, no litoral paulista, foi um deles. “Suas imagens mexeram com a minha cabeça. Na primeira vez em que mergulhei, a memória do que eu havia visto na TV foi ativada”, lembra. Com a morte do filho, Philippe, em 1979, Cousteau abraçou ainda mais o ativismo. Alertou o mundo sobre o aquecimento global e condenou a poluição dos oceanos. Morreu em 1997, aos 87 anos, mas a natureza que ele defendeu ainda luta para sobreviver.