A fastado da política por corrupção e escândalos sexuais, o magnata Silvio Berlusconi ressurge aos 85 anos como candidato à Presidência da República na Itália, que tem eleições no próximo dia 24. Dono do grupo de comunicação Fininvest, do qual faz parte a Endemol, que exporta programas como Big Brother, é o 327º colocado na lista de bilionários de 2021 da revista Forbes, com fortuna avaliada em US$ 7,6 bilhões (perto de R$ 42 bilhões).

Para voltar ao poder, precisará angariar 1.009 votos secretos de senadores, deputados, delegados regionais e representantes de minorias linguísticas. Para ser eleito, o candidato tem três rodadas para alcançar dois terços dos votos (673), ou passa à quarta tentativa precisando de maioria absoluta (505). O presidente Sergio Mattarella encerra o mandato de sete anos em 3 de fevereiro e abre caminho para o bem-sucedido primeiro-ministro Mario Draghi, que tem apoio de mais de 50% dos italianos, segundo pesquisas — contra 39% do adversário.

Berlusconi foi banido de cargos públicos e ficou inelegível por seis anos. Quer se reabilitar depois de cair em desgraça. Condenado a quatro anos de prisão por fraude fiscal em sentença de 2012, acabou anistiado, com pena convertida em um ano de serviços prestados a um asilo. Mas ainda responde por suborno de garotas de programa que participavam das famosas “bunga-bunga” — as festas em sua mansão assim batizadas a partir de uma piada de mau-gosto sacada pelo amigo Muammar Khadafi, o sanguinário ditador da Líbia deposto em 2011.

Primeiro-ministro da Itália por quatro vezes, Berlusconi tenta se reabilitar aprumando a cara de pau (de plásticas, na verdade) e fazendo declarações em que se refere a si mesmo na terceira pessoa. “Creio que Silvio Berlusconi pode ser útil para o país”, declarou solenemente. No anúncio de página inteira que mandou publicar em seus jornais, no último dia 13, para marcar o lançamento de sua candidatura, se declara um “herói da liberdade” e “exemplo para todos os italianos”, no melhor estilo cesarista. Líder do partido conservador Forza Italia, que se coliga com as legendas de ultradireita Lega e Fratelli d’Italia, Berlusconi espera arrebanhar apoiadores com seu discurso machista-debochado. Seu plano seria contar com a eleição secreta, para ser eleito na quarta rodada, com apoio dos conservadores.

Se desistir da candidatura, Berlusconi apoiaria a reeleição de Sergio Mattarella. Mas o atual presidente teme abrir caminho para um mandato tão longo (em 75 anos de República, apenas Giorgio Napolitano, em 2013, foi reeleito) e quer passar o bastão para seu primeiro-ministro (o que forçaria a antecipação das eleições gerais). Mario Draghi, 74 anos, foi levado ao cargo por Mattarella em janeiro de 2021, em substituição a Giuseppe Conte (que renunciou), e conta com apoio de uma coalizão nacional que une da esquerda à extrema-direita no Parlamento. Como candidato ainda não-declarado, Draghi é favorito mesmo sob a ameaça de Berlusconi tirar o apoio do Forza Italia.

A saída do primeiro-ministro do cargo geraria um problema. Seu governo levou estabilidade ao país e sua liderança como ex-presidente do Banco Central Europeu é reconhecida no continente. Draghi ganhou ainda mais respeito com o bom uso dos 200 bilhões de euros (R$ 1,25 trilhão) do fundo da União Europeia para reestruturação econômica na pandemia. Além de Draghi e Berlusconi (por muitos tratado como zebra), devem concorrer Paolo Gentolini (comissário da EU, ex-ministro) e três mulheres, atendendo à pressão de movimentos populares: Marta Cartabia (ministra da Justiça, ex-presidente do Tribunal Constitucional). Emma Bonino (ex-ministra das Relações Exteriores) e Elisabetta Casellati (presidente do Senado). Fora o espalhafatoso Berlusconi, os outros mantêm a tradição de não se declararem candidatos até o último momento.