Centenas de moradores de um subúrbio de Valência, na Espanha, protestaram no domingo durante uma visita do rei da Espanha, Filipe VI , e do primeiro-ministro Pedro Sanchez. A cidade foi especialmente atingida pelas inundações mortais da semana passada. O número de mortos na tragédia chega a 217, só em Paiporta, região do protesto, foram 62.

Centenas de voluntários interromperam a limpeza das ruas afetadas pela “enchente do século” e protestaram contra as autoridades com gritos de “assassinos” e “fora, fora”. Pessoas da multidão jogaram lama, pedras e objetos na comitiva da família real.

Enquanto gritavam , eles expressavam a raiva acumulada sobre o que foi visto pelos moradores locais como alertas tardios das autoridades sobre os perigos da tempestade e da inundação de terça-feira na região de Valência, além da resposta atrasada dos serviços de emergência quando o desastre ocorreu.

“Era sabido e ninguém fez nada para evitar”, disse um jovem ao rei, que insistiu em permanecer para falar com as pessoas apesar do tumulto, enquanto o primeiro-ministro havia se retirado.

O governo central disse que a emissão de alertas à população é responsabilidade das autoridades regionais. As autoridades de Valência disseram que agiram da melhor forma possível com as informações disponíveis.

Sanchez disse no sábado que qualquer possível negligência seria investigada posteriormente. Dezenas de pessoas ainda estavam desaparecidas, enquanto cerca de 3 mil residências ainda estavam sem eletricidade, segundo as autoridades.

Líder do governo abandona comitiva

Pedro Sánchez acabou abandonando a comitiva por medidas de segurança, mas o rei Felipe VI insistiu por mais algum tempo em falar com as pessoas. Com o rosto e a roupa manchada de lama, ele continuou a caminhar por uma das principais ruas da cidade e conversou com moradores. Eventualmente, também deixou o local.

No início da visita, um cabo de vassoura foi arremessado na direção de Sánchez. Ele foi cercado por sua equipe de segurança, que abriu guarda-chuvas para proteger a comitiva da lama e das pedras atiradas pelos moradores.

Enquanto os profissionais tentavam montar um cordão de segurança ao redor do rei, uma unidade de cavalaria da polícia interveio para afastar os manifestantes. Ao menos um dos seguranças da rainha sofreu um ferimento visível na testa.

Os incidentes levaram as autoridades a suspender a visita do rei e da rainha à cidade de Chiva, que iriam na sequência.

Região deve receber mais chuvas

A Agência Estadual de Meteorologia (Aemet) manteve a região em alerta amarelo e laranja neste final de semana, o que indica a possibilidade de novas chuvas torrenciais.

“Haverá chuvas muito fortes e persistentes, inclusive nas áreas já afetadas pelas enchentes de 29 de outubro”, explicou Rubén del Campo, porta-voz da Aemet, em uma mensagem transmitida no Telegram da agência.

Outro foco dos trabalhos é um shopping center próximo ao vilarejo de Aldaia, que foi duramente atingido pela tragédia. A Unidade Militar de Emergência (UME) ainda está extraindo água e lama do estacionamento subterrâneo do local, onde se espera encontrar mais vítimas.

O número de agentes de segurança destacados para o trabalho de resgate aumentou. São cerca de 7,5 mil soldados e 9,4 mil policiais atuando na busca de sobreviventes.

Mudanças climáticas

As tempestades de terça-feira despejaram em poucas horas a mesma quantidade de água prevista para cair em um ano. As enchentes destruíram pontes, arrastaram casas e centenas de veículos, o que agora está dificultando os serviços de emergência. A tragédia já é o pior desastre relacionado a inundações em um único país na Europa desde 1967, quando pelo menos 500 pessoas morreram em Portugal.

Cientistas dizem que eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes na Europa e em outros lugares por conta das mudanças climáticas. Meteorologistas acreditam que o aquecimento do Mediterrâneo, que aumenta a evaporação da água, desempenha um papel fundamental em tornar as chuvas torrenciais mais severas.

Valência é a região mais atingida pela tempestade. Milhares de voluntários continuam o trabalho de limpeza de ruas, fornecimento de alimentos e busca por desaparecidos sob ameaça de mais chuva.