Você que tem mais de quarenta anos talvez não tenha percebido, mas algumas coisas mudaram na maneira pela qual nos conectamos.

No nosso tempo de garoto existia, por exemplo, um aparelho chamado telefone.

Lembra?

Através do telefone podíamos, pasmem, falar com outras pessoas.

Você “tirava o telefone do gancho”, esperava um silvo longo e discava ou digitava uma sequência de números.

Aguardava a conexão, uns poucos segundos depois de uma sequência de ruídos intermitentes, e pronto!

A pessoa do outro lado da linha atendia.

Você podia fazer essa conexão na hora que bem entendesse.

Ou melhor, no horário que a intimidade entre vocês dois permitisse.

Nem precisava avisar mas, mesmo entre os mais íntimos, não era de bom tom ligar de madrugada, salvo em caso de urgência. Nada disso existe mais.

O telefone, seja fixo ou móvel, são coisas do passado, não sei se você notou.

Ninguém mais precisa ligar para ninguém, nem mesmo em caso de emergência.

O telefone fixo desapareceu.

O telefone celular perdeu a parte do telefone.

Virou apenas celular.

E as conexões discadas e digitadas deram lugar a um aplicativo chamado WhatsApp, que passou a ser nosso cordão umbilical de sobrevivência social.

Sério. WhatsApp é a verdadeira evolução das relações humanas.

Você já parou para pensar sobre a quantidade de interações sociais que foram substituídas pelo WhatsApp?

Em tempos de pós-homeoffice, o WhatsApp é muito mais importante que o Zoom, o Meets, o Teams juntos. Ou qualquer outro programa de reuniões virtuais.

O Skype, coitado, deve estar envergonhado com o fiasco que se tornou.

WhatsApp é a maior invenção desde o abraço, meu amigo.

Ali a gente compra e vende, conhece, discute, briga, se apaixona e se odeia.

É ali que a sua tia espalha as fake news mas é ali, também, que você esclarece o que é verdade e o que é mentira.

Só que tudo isso aconteceu muito rápido.

O WhatsApp se tornou esse símbolo da era moderna e nunca paramos para discutir algumas das peculiaridades deste aplicativo.

Por isso achei importante dividir aqui com vocês algumas importantes constatações.

A primeira delas diz respeito ao tickezinho azul, sabe qual é?

Aquele que diz se o sujeito leu ou não a sua mensagem.

Pois afirmo peremptoriamente: quem não tem tickezinho azul, bom sujeito não é.

Ora bolas, está querendo esconder o que?

Se eu mandei a mensagem, é meu direito saber que você leu!

Mas não. O sujeito se acha no direito de permanecer anônimo à leitura.

Sinal dos tempos. O futuro das relações sociais depende de um aplicativo

Não confio.

Entendo o sujeito, mas não confio.

Entendo tanto que espero o dia que o WhatsApp permitirá tickezinho azul por usuário.

Aí sim, já tenho algumas vítimas na mira. Outra coisa que me irrita. Mensagem de áudio.

Ô meu Deus, que parte o sujeito não entendeu?

WhatsApp é para mandar mensagem de texto, filhão.

Se é para mandar mensagem de áudio, telefona que é mais fácil.

Mas você não telefona porque ninguém mais telefona, como já expliquei.

Então pronto, não mande mensagens de áudio, senão a amizade vai acabar.

Aliás, quem só manda mensagens de áudio e não tem o tickezinho azul está praticamente pedindo para ser um pária da sociedade. Por último, os grupos.

Ah, os grupos de WhatsApp.

Não há forma mais eficiente de acabar com um bom dia do que receber mensagens de bom dia com flores num grupo de WhatsApp que você não queria estar. Há muito para se falar sobre os grupos e prometo voltar ao tema.

Mas, concluo este artigo com o pior dos seres humanos: gente que coloca você em grupos de WhatsApp sem avisar.

Um dos poucos casos em que o homicídio está liberado.