O regime militar que surgiu do golpe de Estado no Níger anunciou nesta quinta-feira (10) que formou um governo, poucas horas antes do início de uma reunião de cúpula de emergência dos países da África Ocidental que buscam o retorno ao poder do presidente derrubado Mohamed Bazoum.

Os militares nomearam na segunda-feira um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zein, e anunciaram na madrugada desta quinta-feira a formação de um Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais à frente das pastas do Interior e da Defesa.

O novo governo representa a consolidação do poder dos militares que derrubaram, em 26 de julho, o presidente Bazoum, que está detido desde então.

Os governantes dos países que integram a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) contrários ao golpe de Estado no Níger se reúnem nesta quinta-feira em Abuja, a capital da Nigéria, depois do fracasso do ultimato anunciado aos militares que tomaram o poder.

A Cedeao advertiu que “decisões importantes” devem ser anunciadas. A organização reiterou sua preferência pela via diplomática para “restabelecer a ordem constitucional” no Níger, mas não descartou a possibilidade de uso da força.

No domingo expirou um ultimato de sete dias anunciado pelo bloco regional aos militares nigerinos para que o presidente Bazoum, eleito democraticamente, retornasse ao poder.

Os autores do golpe no Níger não parecem dispostos a aceitar as tentativas de negociação da Cedeao, o que estimula os temores de uma intervenção militar no país da região do Sahel.

Na terça-feira, uma delegação conjunta da Cedeao, da União Africana e da ONU tentou viajar a Niamey, mas os militares recusaram a visita e alegaram motivos de “segurança”.

A única mensagem de abertura foi o encontro de quarta-feira entre o líder da junta militar do Níger, general Abdourahamane Tiani, e um ex-emir nigeriano, Sanusi Lamido Sanusi, próximo ao presidente da Nigéria, Bola Tinubu.

De modo paralelo aos esforços diplomáticos, os comandantes militares dos países da Cedeao se reuniram na semana passada em Abuja para definir como seria uma hipotética intervenção militar.

Níger é o quarto país dentro do bloco regional a sofrer um golpe de Estado desde 2020, depois de Guiné, Mali e Burkina Faso.

Os dois últimos, ex-colônias francesas como o Níger, expressaram solidariedade ao novo regime de Niamey e afirmaram que uma intervenção militar será considerada uma “declaração de guerra” contra todos os países.

– Apoio ocidental –

Níger era um dos últimos aliados das potências ocidentais na região do Sahel, desestabilizada pela violência de grupos islamitas armados.

As potências, com França e Estados Unidos à frente, apoiam os esforços da Cedeao para restabelecer o mandato do presidente Bazoum, um parceiro crucial para o dispositivo antijihadista na região.

Washington expressou preocupação com as condições de detenção do chefe de Estado derrubado, detido desde o golpe de Estado na residência presidencial.

A subsecretária de Estado americana, Victoria Nuland, viajou na segunda-feira a Niamey para uma reunião com os autores do golpe, mas não se encontrou com o general Tiani nem com o presidente Bazoum.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também expressou “preocupação com a saúde e segurança do presidente e sua família”. Ele pediu a “libertação imediata e incondicional”, assim como seu retorno ao poder.

A França, ex-potência colonial, mantém tropas mobilizadas na região para a luta antijihadista.

Desde o golpe, Paris suspendeu acordos de cooperação militar com Niamey. Os militares nigerinos já haviam anunciado o rompimento dos acordos, mas a França ignorou a afirmação por considerar que a junta não tem legitimidade para tomar esta decisão.

Na quarta-feira, os militares do Níger denunciaram que um avião militar francês procedente do Chade violou o espaço aéreo nigerino e acusaram a ex-potência colonial de “libertar terroristas”, o que o governo da França negou.

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