Os autores do golpe de Estado no Níger contra o presidente Mohamed Bazoum anunciaram, neste domingo (13), em comunicado lido na TV nacional, a intenção de “processar” o presidente deposto por “alta traição” e por “minar a segurança” do país.

“O governo nigerino reuniu, no dia de hoje (…) evidências para processar o presidente deposto e seus cúmplices locais e estrangeiros junto às instâncias nacionais e internacionais competentes por alta traição e por minar a segurança interna e externa do Níger”, declarou o coronel Amadou Abdramane.

O governo sustenta suas acusações com base nos “intercâmbios” de Bazoum com “cidadãos”, “chefes de Estado estrangeiros” e “dirigentes de organizações internacionais”.

A respeito do presidente deposto, os militares disseram que nunca tomaram o controle da residência presidencial, onde Bazoum está, e que o presidente deposto é livre para se comunicar com o mundo exterior.

Bazoum, de 63 anos, permanece na residência presidencial desde o golpe de Estado de 26 de julho, acompanhado do filho e da esposa.

Os militares asseguram que Bazoum “recebe regularmente a visita de seu médico”.

Segundo um conselheiro do presidente, uma consulta médica foi realizada no sábado.

“Após esta visita, o médico não revelou nenhum problema sobre o estado de saúde do presidente deposto e dos membros de sua família”, acrescentaram os militares.

O presidente deposto disse a vários meios de comunicação que é mantido “refém”, que não tem acesso a eletricidade e é obrigado a comer exclusivamente arroz e massas.

No comunicado, o regime militar também denunciou “as sanções ilegais, desumanas e humilhantes da Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental)”, adotadas após uma cúpula da organização, em 30 de julho.

Segundo o coronel Abdramane, a população nigerina está sendo “duramente atingida pelas sanções ilegais, desumanas e humilhantes impostas pela Cedeao”, que “chegam a privar o país de produtos farmacêuticos, alimentícios”, além do “fornecimento de eletricidade”.

De acordo com os militares no poder, “todas as medidas urgentes estão sendo tomadas para atenuar ao máximo o impacto das sanções”.

A respeito das pessoas próximas ao governo deposto detidas após o golpe de Estado, os militares acrescentaram que “reafirmam seu firme desejo de respeitar (…) os compromissos do Níger no tema dos direitos humanos”.

– Abertos à democracia –

As declarações ocorreram poucas horas depois de mediadores religiosos nigerianos se reunirem com o líder dos militares no poder, general Abdourahamane Tiani, segundo quem seu regime estava aberto a um avanço diplomático.

Tiani “disse que suas portas estavam abertas para explorar a diplomacia e a paz para resolver a questão”, disse o xeque Bala Lau, à frente desta missão de religiosos muçulmanos, que chegou no sábado a Niamei, capital do Níger.

Tiani “afirmou que o golpe foi bem-intencionado” e que os conspiradores “agiram para dissipar uma ameaça iminente que teria afetado” tanto a Nigéria quanto o Níger, segundo Lau.

No entanto, Tiani qualificou como “doloroso” que a Cedeao tenha dado um ultimato para restituir Bazoum ao poder, sem escutar “sua versão sobre o assunto”, acrescentou.

Os líderes religiosos foram a Niamei com o aval do presidente nigeriano, Bola Tinubu, que também preside o bloco regional oeste-africano.

O bloco cortou as transações financeiras e o fornecimento elétrico e fechou as fronteiras com o Níger, um país sem litoral, bloqueando as exportações de que o país, um dos mais pobres do mundo, tanto precisa.

Em 30 de julho, a Cedeao deu um ultimato de sete dias para que Bazoum retornasse ao poder sob o risco de uso da força, mas o prazo expirou sem que os militares tenham voltado atrás.

O bloco cancelou uma reunião de crise sobre o golpe, que devia ter sido realizada no sábado, em Accra, capital de Gana, por “razões técnicas”.

A perspectiva de uma intervenção militar para restituir Bazoum dividiu os membros da Cedeao e suscitou advertências de potências estrangeiras, como Rússia e Argélia.

Mali e Burkina Faso, vizinhos do Níger, e também governados por militares que tomaram o poder mediante golpes de Estado, afirmaram que uma intervenção equivaleria a declarar guerra contra eles.

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