A região da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, é a líder em mortes no trânsito da capital. Perdizes, também na zona oeste, tem a menor proporção da cidade. Isso representa uma desigualdade de 25 vezes. É o que aponta o Mapa da Desigualdade de 2018, publicado nesta quarta-feira, 28, pela Rede Nossa São Paulo, com dados referentes ao ano passado. O estudo apresenta os números por distrito e revela a diferença (“desigualtômetro”) entre o melhor e o pior índice da capital.

Enquanto o índice da Barra Funda é de 44,9 acidentes fatais de trânsito por 100 mil habitantes, em Perdizes essa proporção é de 1,7 morte. O número da Barra Funda é sete vezes superior à meta estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que em 2017 fixou a taxa de 6 mortos a cada 100 mil habitantes.

O Mapa da Desigualdade é uma publicação divulgada desde 2012. O levantamento traz dados sobre os 96 distritos em relação a 53 indicadores nas áreas da administração pública. Utilizando fontes públicas e oficiais, o Mapa contribui para a elaboração de políticas públicas com o objetivo de reduzir desigualdades em São Paulo.

O coordenador da Rede Nossa São Paulo, José Américo Sampaio, diz que a diferença pode ser explicada com base no perfil de cada distrito. A Barra Funda é uma região com vias expressas, nas quais os carros atingem velocidades mais altas, enquanto Perdizes é uma região residencial com pouco comércio e ruas onde os veículos rodam com velocidade mais reduzida. Embora os dados do Mapa não apontem uma causa, ele afirma que há algumas hipóteses que ajudam a apontar as causas.

“A Barra Funda tem número de carros e transporte coletivo muito superior ao distrito de Perdizes. É um eixo de deslocamento de massa na cidade. Também tem uma concentração muito grande de empregos, então há um deslocamento muito grande de gente principalmente nos horários de pico, às 9 horas e às 18 horas. Além disso, a Barra Funda também concentra muitas baladas, teatros e casas de show”, avalia Sampaio.

O distrito da Barra Funda também lidera em número de empregos. Na região, há 59 postos de emprego formal para cada 10 habitantes em idade ativa (idade maior ou igual a 15 anos). Em Cidade Tiradentes, na zona leste, há apenas 0,2 posto de emprego formal para a mesma proporção. A desigualdade é de 246 vezes. O dado revela que há uma forte concentração de postos de trabalho na região central da cidade na relação com as áreas periféricas.

Nos últimos cinco anos, entre 2013 e 2017, o “desigualtômetro” – ferramenta usada no Mapa da Desigualdade para comparar a distância entre o melhor e o pior índice – apontou piora em indicadores de saúde, segurança no trânsito e cultura.

A maior variação ocorreu em relação aos leitos hospitalares, onde a desigualdade chega a 334% entre o melhor e o pior distrito. No distrito da Bela Vista, na região central, para cada mil habitantes, há 48 leitos hospitalares públicos e privados disponíveis. No distrito de São Rafael, na zona sul, há zero opções a cada mil residentes. A desigualdade entre os distrito é de 1.251 vezes.

O desigualtômetro aponta piora ainda em relação a acidentes com bicicleta e mortes no trânsito entre 2013 e 2017. A diferença entre o melhor e pior distrito no que diz respeito a acidentes com bicicletas se ampliou nesse período, variando 147%. A desigualdade também piorou (66%) em relação às mortes no trânsito, distanciando os distritos com mais e menos mortes no trânsito.

Ao analisar números dos últimos cinco anos em relação a 53 indicadores da administração pública, o Mapa permite diagnosticar as desigualdades no primeiro ano da gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) – em 2013 – com o primeiro ano da gestão João Doria (PSDB) – 2017.

Segundo Sampaio, porém, nos últimos 5 anos a desigualdade entre os distritos da capital se manteve estagnada. “É uma desigualdade estrutural que não tem apresentado variações significativas no que diz respeito ao contexto geral da cidade. Tem uma desigualdade séria, grave, profunda e estrutural que a gestão municipal não tem conseguido resolver nos últimos anos”, afirmou o coordenador da Rede Nossa São Paulo.

Sampaio destacou, porém, o que piorou e o que melhorou em relação às áreas específicas. Na saúde, por exemplo, comparando 2013 e 2017 é possível perceber uma redução da desigualdade nos temas da mortalidade infantil, pré-natal insuficiente e gravidez na adolescência. “Esses três temas da saúde merecem um destaque positivo porque houve redução da desigualdade entre os distritos. Ou seja, quando se compara o melhor e o pior distrito, essa diferença diminuiu nos últimos quatro anos”, explicou.

Já em relação à cultura, por exemplo, a desigualdade entre o melhor e pior distrito da cidade aumentou. “Em relação à oferta de equipamentos culturais, em especial os centros culturais e teatros, a distância entre o melhor e o pior distrito foi aumentada nos últimos quatro anos. Teve uma desigualdade profunda. Ou a oferta aumentou na região central, que passou a ter mais equipamentos culturais do que já tinha, ou piorou em regiões periféricas, onde já era escassa essa oferta”, disse Sampaio.